O tema central desta peça, na sua forma aparente, é o amor tardio. Um tema literário
que naquele ano anda nas bocas do mundo, sobretudo na Corte, pois havia sido publicado
em 1511 o Cancionero General de Hernando del Castillo, que além de incentivar os poetas,
nas suas páginas divulga o Diálogo entre el Amor y un viejo, de Rodrigo de Cota.
Do Diálogo..., Gil Vicente retoma apenas o tema do amor patético de um Velho para
construir uma nova invenção, dispondo os seguintes elementos no seu enredo: (1) o desejo
de uma união derradeira (vivo não no quero ser, mas cativo /…/ minha morte antecipada),
de um velho senhor com uma donzela bela, moderna e prudente que, no desfecho utópico
do auto, há-de ser levada por um príncipe (como no desfecho de outras peças do autor); (2)
os dissabores causados e sofridos por aquele desejo do Velho no seu meio familiar e social
com a imposição do seu poder imperativo, força da sua vontade; (3) os expedientes avançados
pelo Velho através da Alcoviteira, e desta para com os possíveis apoiantes daquela
união, para alcançar os seus objectivos; (4) uma peripécia com a intervenção inesperada da
força policial dirigida pelo representante da Justiça, o Alcaide, que na acção dramática, vem
desfazer a dúvida sobre se os desejos do Velho se vão alcançar, confirmando o que se suspeitava
pelas acções enganosas da Alcoviteira; e por fim (5) a reviravolta, num desenlace
que expõe o falhanço daquela desejada união do Velho – que se quer ver cativo na Sepultura
– em prol da qual gastou toda a sua fortuna (na Horta) com a Alcoviteira.