An edition of O Maior Mistério Já Revelado (2015)

O Maior Mistério Já Revelado

Romanos

Locate

My Reading Lists:

Create a new list

Check-In

×Close
Add an optional check-in date. Check-in dates are used to track yearly reading goals.
Today


Buy this book

Last edited by Silvio Dutra
September 2, 2016 | History
An edition of O Maior Mistério Já Revelado (2015)

O Maior Mistério Já Revelado

Romanos

Desvende nas páginas deste livro a revelação do mistério que nos trouxe muitas e preciosas riquezas, que de tantas não poderiam ser citadas numa breve sinopse.
São riquezas adquiridas por um altíssimo preço, mas que nos são concedidas gratuitamente.
Todavia, devemos ser inteiramente francos e honestos em dizer, que apesar de ter sido revelado, este mistério permanece em oculto para todo aquele que não o enxergar com os olhos da fé.

Publish Date
Publisher
Silvio Dutra
Language
Portuguese
Pages
186

Buy this book

Book Details


Table of Contents

O Maior Mistério Já Revelado
Silvio Dutra
NOV/2015
2
A474o
Alves, Silvio Dutra
O maior mistério já revelado/ Silvio Dutra
Alves. - Rio de Janeiro, 2015.
207p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Eternidade. 4.Eleição
I. Título.
CDD 230.227
CDD 230.227
3
Sumário
INTRODUÇÃO
4
I – O MISTÉRIO OCULTO ATÉ A
MANIFESTAÇÃO DE CRISTO
6
II – NÃO HÁ JUSTOS DE SI MESMOS AOS
OLHOS DE DEUS
7
III – AS EXIGÊNCIAS DA LEI SE CUMPREM
EM CRISTO
15
IV – A LEI É ESTABELECIDA PELA FÉ
23
V – JUSTIFICADOS SOMENTE POR FÉ
32
VI – O FUNDAMENTO, O MODO E OS
EFEITOS DA JUSTIFICAÇÃO
42
VII – JUSTIFICADOS PARA SER
SANTIFICADOS
54
VIII – A GRAÇA TUDO VENCERÁ
71 IX – A UNIÃO INDISSOLÚVEL DO CRENTE COM CRISTO
90
X – A CAUSA DA JUSTIFICAÇÃO, DA
ELEIÇÃO E DA FILIAÇÃO
107
XI – O MODO DE PROCLAMAÇÃO E
RECEPÇÃO DO EVANGELHO
115 XII – A CONDUTA QUE CONVÉM AOS SALVOS PELO EVANGELHO
125
CONCLUSÃO
136
4
Introdução
Nenhum outro documento do Novo Testamento e mesmo de toda a Bíblia contém tantas revelações sobre o que seja a justificação pela graça, mediante a fé, do que a carta do apóstolo Paulo aos Romanos.
Certamente, foi se referindo a ela, entre outras Escrituras do apóstolo Paulo, que Pedro disse haver nelas pontos difíceis de serem entendidos, que eram distorcidos pelos indoutos e inconstantes, para a própria perdição deles.
São pontos difíceis de entender não por motivo de terem sido redigidos em linguagem de difícil compreensão, mas por haver neles verdades espirituais que dependem de iluminação e instrução do mesmo Espírito Santo que as inspirou, para serem devidamente interpretadas.
Muitos que têm ousado nadar nestas águas profundas têm se afogado, como sucedeu no passado àqueles indoutos e inconstantes aos quais se referiu o apóstolo Pedro no final de sua segunda epístola.
Mas, pela graça de Deus, temos alcançado, juntamente com outros mestres da Palavra, a interpretação autêntica relativa à graça
5
justificadora e santificadora que foi ensinada diretamente por nosso Senhor Jesus Cristo ao apóstolo, quando Paulo recebeu dEle o Evangelho, conforme afirma na epístola aos Gálatas: “Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.” (Gál 1.12). Assim, nosso Senhor Jesus Cristo revelou o evangelho a Paulo, e este escreveu a revelação especialmente na epístola aos Romanos, que nos esforçaremos agora para apresentar de forma clara, concisa e direta, conforme sejamos ajudados pelo Espírito Santo.
6
I – O mistério oculto até a
manifestação de Cristo
Nas epístolas aos Efésios e Colossenses, Paulo se refere ao mistério que esteve oculto em Deus, dos séculos e das gerações e que que foi manifestado com a inauguração da dispensação da graça ou do evangelho em e por nosso Senhor Jesus Cristo (Ef 3.8-12; Col 1.24-27).
A revelação deste mistério que estivera oculto em Deus se manifestaria especialmente nos gentios, os quais não eram abrangidos pela Antiga Aliança, firmada exclusivamente com a nação de Israel (Col 1.27). Assim, aqueles que não tinham antes esperança da glória de Deus, poderiam participar desta glória juntamente com o remanescente judeu.
Isto porque aprouve a Deus que toda a plenitude residisse em Cristo, de forma a reunir em um só rebanho ovelhas de todas as nações da Terra. E o meio de realização deste propósito divino é o evangelho que foi revelado por Cristo aos apóstolos para ser pregado e ensinado, para a conversão e santificação dos pecadores.
A agência escolhida por Deus para esta divulgação do evangelho é a Igreja, não propriamente a instituição assim chamada, mas o corpo formado por todos aqueles que foram
7
efetivamente lavados e justificados por meio do Sangue de Jesus Cristo (Ef 3.10).
Se como integrantes da Igreja fomos comissionados para tão alta, sagrada e importante missão, então é nosso dever nos inteirarmos devidamente de qual seja de fato a mensagem do evangelho revelado aos apóstolos, e do qual dão testemunho as Escrituras, e a própria Lei e os Profetas.
Como dissemos anteriormente, esta explicação relativa ao que seja o evangelho foi escrita por Paulo, especialmente na carta aos Romanos, sobre a qual discorreremos deste ponto em diante.
8
II – Não há justos de si mesmos aos olhos de Deus
(Romanos 1)
No primeiro capítulo de Romanos o apóstolo destaca especialmente a condição de todas as pessoas diante de Deus. Ele quis enfatizar que a justiça do próprio homem é imperfeita e incompleta para poder satisfazer a exigência da santidade e justiça de Deus, que demanda absoluta perfeição moral e espiritual, sem qualquer pecado cometido ao longo do curso de toda a nossa existência, condição esta que, patentemente, ninguém possuiu ou possui neste mundo, senão apenas o próprio Senhor Jesus, e por isso pôde se apresentar como oferta de sacrifício em nosso lugar, para que morrendo a nossa morte, pudéssemos ter vida eterna juntamente com Ele diante de Deus, que é Deus de vivos e não de mortos. Esta epístola tem sido chamada por muitos de o evangelho segundo Paulo. Ele fez uso da palavra evangelho por quatro vezes somente neste primeiro capítulo, como se vê nos versículos 1, 9, 15 e 16, enfatizando que havia sido chamado para apóstolo, tendo sido separado de um modo especial por Deus, para ministrar o evangelho de Cristo.
9
Esta repetição da Palavra “evangelho” logo no primeiro capítulo é muito importante para descobrirmos o propósito com o qual Paulo foi inspirado pelo Espírito Santo, a saber, o de ensinar aos cristãos de todos os tempos o que é o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo, e a importância dele para o cumprimento do propósito eterno de Deus de gerar pelo evangelho, muitos filhos semelhantes a Jesus entre os pecadores. O próprio apóstolo havia sido gerado pela palavra do evangelho e por isso declarou que servia a Deus em seu espírito, no evangelho de Seu Filho. Que estava pronto para anunciar também o evangelho em Roma, porque não se envergonhava do evangelho, uma vez que é ele o poder de Deus para a salvação de todo o que crê. A grande necessidade da humanidade, de um evangelho de Deus que a salve, repousa no fato de que Deus manifestou por várias vezes, especialmente no Velho Testamento, a Sua ira contra o pecado, para que soubéssemos que há uma grande condenação final pairando sobre as cabeças de todas as pessoas, e é somente pelo evangelho que é possível escapar desta condenação decorrente do pecado.
10
Então, é somente pela justiça do evangelho, que é segundo a fé, que a ira de Deus contra o pecado daqueles que se convertem a Ele pode ser afastada, pela satisfação da Sua justiça em relação à punição eterna que se exige em relação ao pecado, conforme o apóstolo vai expor amplamente nesta epístola. Paulo diz que a justiça de Deus é revelada no evangelho de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé; porque esta justiça evangélica é a justiça de Deus; no sentido de que é a que Ele está aprovando e aceitando. E a justiça que está sendo oferecida para a remissão dos pecados é a do próprio Cristo. É portanto, somente por causa da fé em Jesus, que os pecadores são justificados, porque é o próprio Cristo que é a nossa Justiça, por estarmos unidos a Ele (I Cor 1.30). Deus nos vê em Cristo e fica satisfeito, porque estamos nAquele que é justo e santo, e que foi justificado pelo Pai por ter carregado os nossos pecados em Sua morte, porque Ele não tinha qualquer pecado, de modo que isto foi comprovado, de que era Justo aos olhos de Deus em sua ressurreição e recepção na glória do céu em triunfo, depois de Sua ascensão. Assim, é pelo conhecimento pessoal e real que temos deste que é perfeitamente Justo – Jesus –
11
que somos justificados, conforme prometido desde os dias dos profetas do Velho Testamento (Isaías 53.11). Ser salvos pelo conhecimento de Jesus, conforme consta na profecia de Isaías 53.11 era de fato algo revolucionário para a mentalidade daqueles que estavam sob o Antigo Pacto no Velho Testamento, porque lá se falava numa justiça que seria decorrente das obras dos crentes, e não pelo conhecimento espiritual e pessoal de Cristo, que é mediante a fé. Esta coisa nova inerente à Nova Aliança instituída por Jesus em Seu sangue, para substituir a Antiga, consiste na boa nova (evangelho) que deve ser pregada a toda criatura debaixo do céu, conforme ordenança de Jesus, e assim o apóstolo disse que estava pronto para pregar o evangelho também em Roma, apesar de não ter sido o fundador da Igreja naquela cidade. Não é por mérito de raça, de capacidade humana ou de qualquer outra qualificação ou capacitação que há salvação de pecadores, mas pela exclusiva graça que opera de fé em fé no evangelho, como Paulo afirma no verso 17. A ação do pecado no mundo é evidente de várias maneiras, e o apóstolo enumera algumas a título de ilustração, até o versículo 32.
12
Todas as pessoas são, portanto, indesculpáveis perante o justo juízo de Deus que exige perfeita santidade de todos, sem exceção. Ora, ainda que a nossa salvação seja efetuada exclusivamente segundo a misericórdia e graça de Deus, mediante o nosso arrependimento e fé, está claro, que é por estes pecados relacionados até o verso 32 que a ira de Deus permanece sobre aqueles que não se arrependem e não creem em Cristo. Disto se infere que na vida cristã, há uma absoluta necessidade para a nossa santificação para o uso por Deus; de um real abandono de todas as práticas pecaminosas ali relacionadas e todas as demais que se refiram à nossa velha natureza decaída – o que faremos recorrendo ao auxílio da graça e do poder de Deus, por meio da vigilância e da oração. O pecado relativo a impureza sexual ou a qualquer outra, por exemplo, deve ser devidamente mortificado e abandonado. Enquanto os vícios nos dominarem não podemos ser instrumentos úteis e idôneos para o Senhor, porque se requer de nós uma posição firme contra todo e qualquer tipo de pecado, para cuja prática ou pensamento de atração estivermos naturalmente inclinados. Sem esta atitude de vigilância e combate contra os pensamentos e práticas pecaminosas não poderemos ser ajudados na hora da tentação, porque Deus dará graça ao que se esforça para
13
agradá-Lo, porque os Seus olhos repousam sobre os justos para abençoá-los mas Ele é contra aqueles que praticam males. Jesus morreu em nosso lugar para que não vivêssemos mais em pecado. Há nesses dias de apostasia da Igreja uma visão muito errada e concessiva quanto a isto, por se julgar que por se estar na graça não há mais necessidade de se preocupar com nossos pecados presentes ou futuros, porque Deus não estaria levando em conta estes pecados por termos sido perdoados por Cristo. Todavia, não é este o ensino das Escrituras. É certo que toda a dívida de pecados foi paga para o que crê em Cristo, por nosso Senhor na cruz, tanto de pecados passados, presentes ou futuros, para efeito de nos livrar da condenação eterna, todavia, isto se refere à salvação, e não a um viver santo e vitorioso no presente, que demanda uma verdadeira santificação. Além disso não podemos ter certeza da segurança da nossa salvação, a não ser pelo meio de confirmar a nossa real eleição, pela frutificação espiritual progressiva que é vista em nossas vidas. E isto, tanto no que se refere ao aspecto moral, quanto ao espiritual, uma vez que não basta ser virtuoso, é necessário também ser paciente e grato a Deus em todas as tribulações e sofrimentos que experimentamos neste mundo, por causa do nosso amor ao
14
evangelho, uma vez que é assim que comprovamos que somos de fato eleitos de Deus. Mas, nada desta vida vitoriosa pode ser alcançado sem que haja comunhão com Jesus e recepção diária da Sua própria vida e poder pelo Espírito Santo, uma vez que tudo o que somos e seremos, tudo o que fazemos para Deus e viermos a fazer, é sempre pela graça mediante a fé em Jesus. Se não tivéssemos necessidade dEle para este viver em santificação, não haveria necessidade de ter morrido por nós e estar à direita do Pai intercedendo por nós dia e noite. Então é somente pela graça e justiça do evangelho que está sendo oferecida gratuitamente na dispensação da graça divina, que se pode escapar do Juízo condenatório em razão do pecado, e se obter um viver vitorioso espiritual em nossa jornada terrena. Todos necessitam de um Salvador eficaz, e este é somente Jesus Cristo, conforme o apóstolo Paulo argumenta em toda esta epístola aos Romanos.
15
III – As exigências da lei se cumprem em Cristo
(Romanos 2)
O apóstolo se esforça para demonstrar neste segundo capítulo de Romanos que as boas obras exigidas pela Lei não podem ser praticadas de modo algum sem a assistência da graça que recebemos de Jesus.
De modo que os judeus que se gloriavam na Lei não tinham realmente do que se gloriar, porque a Lei é norma, e a graça é poder, a norma não transforma o coração do pecador, o que pode ser realizado somente pelo poder da graça de Jesus.
Como eles rejeitavam a Cristo, não podiam ter a Sua graça, e por conseguinte, não podiam agradar a Deus de modo algum.
Para que alguém seja justificado diante de Deus pela simples observância dos mandamentos da Lei, há necessidade que este sejam cumpridos integralmente sem qualquer transgressão durante o curso de toda a vida. E quem é suficiente para isto?
De modo que todos, sem uma única exceção, se encontram debaixo da maldição e condenação da Lei, do que podem ser resgatados somente
16
por meio da fé em Cristo, e pela simples operação da Sua graça justificadora. O principal alvo do evangelho é o de nos remir do pecado, de nos transportar das trevas para a luz, da potestade de Satanás para a de Deus, enfim, é a de nos apresentar santificados, inculpáveis perante Deus, para sermos úteis ao Seu serviço. Então o apóstolo vai continuar descrevendo no segundo capítulo de Romanos, a terrível condição de miséria a que está sujeita a natureza humana em razão de se encontrar decaída no pecado. E nisto não há qualquer exceção, porque todos são pecadores, por possuírem tal natureza pecaminosa. Ele vai demonstrar o quão está o ser humano afastado daquela condição santa exigida pela Lei de Deus. O quanto a sua vida é oposta à mesma. E sem a graça do evangelho operando em sua vida o homem está irremediavelmente perdido na citada condição. A propósito, Jesus definiu como sendo seus amigos, somente aqueles que guardam os Seus mandamentos. E a Bíblia nos ensina que amando o mundo, os prazeres carnais, o dinheiro e as riquezas terrenas, nos constituímos a nós mesmos inimigos de Deus.
17
Vemos portanto, a quantas condições de provocação da justiça, da santidade, da longanimidade e da comunhão com Deus estão sujeitos até mesmo os cristãos que não vivem segundo a norma bíblica, por não mortificarem a carne e andarem em novidade de vida no Espírito. Já não são inimigos declarados por causa da cruz, mas vivem como se fossem inimigos da verdade da Palavra que é o único meio pelo qual podem ser santificados pela operação do Espírito Santo, quando deixam de amar ao Senhor guardando os Seus mandamentos, porque amam o mundo. Se a condição de toda pessoa é a de estar naturalmente inclinada ao pecado, então, qualquer um que julga o seu próximo e se compara a ele, pensando que está justificado pelo simples fato de ser religioso, é indesculpável e condena a si mesmo, conforme o apóstolo afirma logo no início deste segundo capítulo. Deus requer conversão, porque sem esta, não é possível atender à demanda da sua justiça, que não faz distinção de pessoas, condição de nascimento, ou religião. É somente por um coração convertido, circuncidado pelo despojamento da carne, que se pode estar habilitado a viver de modo que seja condizente com a justiça de Deus, tanto no que
18
se refere a uma sadia moralidade bíblica, como também na expressão de culto, serviço e adoração a Deus, conforme lhe são devidos e instituídos em Sua Palavra. E sem Cristo na vida, habitando e operando em nosso coração, isto não é possível. Daí Paulo ter afirmado nos versos 9 e 10: “9 Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; 10 Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;”. Então ao se falar na graça, na fé, na justiça do evangelho que são recebidas de Cristo, e que estão em Cristo, fala-se ao mesmo tempo de uma operação real na vida do cristão, convertendo-o das trevas para a luz, e da prática do mal para a prática da justiça evangélica. A pessoa que se converter realmente, será habilitada a amar a Palavra de Deus não somente para ouvi-la mas para praticá-la. Ela terá o seu coração corrompido pelo pecado transformado num coração sensível à vontade de Deus.
19
Ela será capacitada pela graça a amar a Deus e a seus irmãos em Cristo, e a buscar viver em unidade espiritual com Deus e com seus irmãos na fé, porque tem agora a habitação do Espírito Santo, conforme Deus prometeu que o daria a todo que fosse feito discípulo de Cristo. Assim não é pela sua bondade e afeto naturais que o homem é livrado da condenação futura, porque todos são pecadores destituídos da glória de Deus, e necessitam serem justificados por Cristo, e serem regenerados e santificados pelo Espírito Santo, de maneira que não é a própria justiça da pessoa que a salvará, mas a justiça de Cristo que ela encontrou no evangelho. E todos os que forem transformados pela graça do evangelho, viverão eternamente, porque buscarão andar na prática da justiça que é ensinada na Bíblia, especialmente no evangelho. Por isso o apóstolo disse o seguinte nos versos 6 a 8: “6 O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: 7 A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
20
8 Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade;” A desobediência à verdade aqui referida, é sobretudo uma rebelião contra a verdade do evangelho de Cristo. A resistência a Ele e a consequente rejeição ao evangelho é o que resulta em juízo divino, porque sem isto, ninguém está capacitado a viver do modo que é exigido pela Lei, ou pelo menos ser habilitado a caminhar por esta senda de obediência aos mandamentos do Senhor. Jesus falou claramente sobre a necessidade de se nascer de novo para se entrar no reino dos céus. Por isso foi logo ao ponto com Nicodemos lhe dizendo que não era o fato de ser um religioso sincero que lhe garantia o acesso ao reino de Deus, mas sim, caso tivesse uma experiência real de novo nascimento do Espírito Santo. Deus não faz distinção entre judeus e gentios, porque não faz acepção de pessoas. Os judeus não tinham, portanto, nada do que se gloriar em relação aos gentios, porque tanto estes que não estiveram debaixo da Lei de Moisés, quanto os judeus que estiveram debaixo da Lei, caso vivessem no pecado, pereceriam
21
igual e eternamente, se não fossem justificados pela fé no evangelho de Cristo. Assim, o judeu não se encontrava em vantagem em relação aos gentios quanto à justiça do evangelho, e nem os gentios em vantagem em relação aos judeus, porque tanto um quanto outro não são justificados por suas obras, mas por uma real união com Cristo. Não tem nenhum valor a mera ortodoxia do judeu na defesa da Lei, porque não lhe ajudaria em nada quanto à salvação segundo o evangelho, pois não é por se ter a Lei e se gloriar em Deus, e saber a vontade de Deus e aprovar o que é prescrito na Sua Palavra, ainda que seja um mestre da Lei, caso não se pratique aquilo que se defende, como Paulo diz nos versos 17 a 24. E sabemos que é impossível ser espiritual conforme Deus requer, sem a habitação do Espírito Santo, o qual é recebido somente por causa da fé em Cristo. Os que não conhecem a Lei escrita revelada por Deus também serão condenados caso não tenham sido justificados pela graça, uma vez que há uma lei escrita em seus corações, em suas consciências, ali colocada por Deus com o propósito de ensinar ao homem qual é o caminho pelo qual deve andar. Além disso, todos os homens estão debaixo da Lei original de Deus, do pacto de obras que fizera com toda a humanidade através de Adão, pois foi ordenado
22
ao homem que seja perfeito em todos os sentidos (justiça, santidade, etc) diante de Deus. Esta é a Lei régia à qual se refere Tiago (2.8), resumindo-a no amor perfeito devido ao próximo. É a Lei do Rei. Do criador do homem e Juiz do universo. De Deus que fez O homem para amar e ser amado em perfeição de obediência aos Seus mandamentos. Uma vez quebrada a Lei, o homem se torna culpado e condenável a um juízo eterno. Todos pecaram neste sentido. Todos quebraram a Lei régia de Deus e por isso serão condenados. Condenação esta da qual podemos nos livrar somente por meio da expiação e redenção do sangue de Jesus. Então, para aqueles que são salvos da condenação não há outro caminho senão o de viver para a justiça de Deus, na prática do bem. Assim, não é bastante conhecer o bem; falar bem, professar o bem; prometer o bem, porque é necessário acima de tudo fazer o bem. E segundo o apóstolo para praticar o bem conforme ele é definido por Cristo, é necessário viver na fé do evangelho, porque é por este meio que podemos comprovar para nós mesmos que fomos de fato salvos pela graça de Jesus.
23
IV – A lei é estabelecida pela fé (Romanos 3) Tendo falado nos dois primeiros capítulos de Romanos sobre a natureza pecaminosa universal de toda a humanidade, quer em todas as épocas ou lugares, e do juízo de condenação eterna que há da parte de Deus sobre aqueles que se encontram nesta condição, a saber, todas as pessoas sem exceção, Paulo passou a discorrer nos capítulos 3, 4 e 5, sobre a solução provida por Deus para perdoar e restaurar o homem caído, ao nos dar Jesus Cristo para ser tanto o nosso sacrifício expiatório, quanto o nosso sumo sacerdote intercessor, o nosso guia, rei e senhor, bem como a nossa própria nova vida espiritual e celestial. Tiago havia falado sobre a Lei Régia que condena todo homem, porque esta Lei não foi revogada ou substituída pela Nova Aliança feita no sangue de Jesus, senão apenas a Lei cerimonial e civil que foi dada através de Moisés para vigorar para a nação de Israel no período do Antigo Testamento, que durou de Moisés (1.440 a.C), até a morte de nosso Senhor Jesus Cristo na cruz. Tiago falou também de uma Lei da Liberdade sob a qual se encontram todos os que creem em Jesus. E por que ele se referiu a ela deste modo?
24
Por que é pela lei do Espírito e da vida em Cristo Jesus que somos libertados da lei do pecado e da morte (Rom 8.2). Veja que é afirmado ser ela uma lei de liberdade. E liberdade do pecado e da morte espiritual eterna. Não se trata, portanto, de uma simples lei de liberdade de vícios, de práticas imorais, ou de toda forma de pecado que se possa nomear, mas é sobretudo uma liberdade de uma condição de morte para a de vida eterna; de prisão em ignorância e em trevas, para o verdadeiro conhecimento de Deus e de luz. É liberdade da escravidão a Satanás e a todos os espíritos das trevas. É liberdade da condenação da Lei. É liberdade para ter poder e capacidade para viver de maneira santa e agradável a Deus e em comunhão com Ele por toda a eternidade. Tudo isto nos foi trazido pela graça e verdade que estão em Jesus Cristo, e que nos foram reveladas pelo Seu evangelho. O injusto pecador, estando sob o evangelho, será visto por Deus como sendo justo, porque além de ter sido justificado pela fé no evangelho, terá também a justiça de Cristo sendo implantada nele progressivamente até a perfeição em
25
glória, pela operação e instrução do Espírito Santo. A justiça do próprio Cristo lhe foi oferecida pelo evangelho para poder ser perdoado e justificado por Deus. Veja que esta justiça do evangelho não é em primeira instância uma justiça que seja requerida de nós, mas é a justiça de Cristo que nos está sendo oferecida gratuitamente por meio do evangelho. De modo que estando em Cristo somos participantes da Sua justiça, pela qual nos tornamos aceitáveis a Deus. Deus não mais condenará eternamente aquele que foi justificado pela fé em Jesus. Ele não o fará porque prometeu isto desde os dias dos profetas do Velho Testamento (Jeremias 31.31-35). Por isso nosso Senhor afirmava que não veio para condenar o mundo, mas para salvá-lo, pois veio inaugurar uma nova dispensação – a da graça, a do Espírito Santo, a da longanimidade e paciência de Deus, até que Ele volte para julgar os vivos e os mortos. Esta é a razão para não serem vistos nesta dispensação, tantos juízos imediatos de Deus
26
contra os pecadores, como se via nos dias do Velho Testamento, pois desde que Jesus morreu e ressuscitou, Ele tem dado a oportunidade para que todos os pecadores se arrependam e alcancem a vida eterna. E para que não houvesse qualquer dúvida em nós quanto ao que havia prometido acrescentou um juramento por Si mesmo de que jamais anularia o que nos prometeu (Hebreus 6.17). É por isso que vemos o caráter deste perdão e justificação sendo ilustrado por Jesus em tantas passagens dos evangelhos, especialmente nas parábolas da dracma perdida, do filho pródigo e da ovelha perdida. Não temos tempo e espaço para aprofundar aqui todo o ensino que há nestas parábolas, mas podemos destacar pelo menos este aspecto da busca de Deus pelos perdidos, e que deve haver também nos que estão perdidos, uma busca de Deus para que possam ser acolhidos por Ele. Todavia, ninguém deve pensar que ao buscar a sua ovelha fujona e extraviada, que o Pastor teve da parte dela uma efusiva recepção. É bem provável que ela tenha tentado escapar de seus braços imaculados, de tão suja que estava pelo pecado, envergonhada de sua condição, mas ainda assim ele insistiu em pegá-la e obteve êxito ao pegá-la e colocá-la sobre os seus ombros, para poder cuidar dela, lavando-a,
27
alimentando-a e dando-lhe um abrigo seguro no aprisco. É por este motivo que é ordenado aos cristãos seguirem o exemplo do Seu Pastor e Mestre, buscando também as ovelhas desviadas do rebanho. Ainda que haja uma resistência natural nelas ao serem assim procuradas, mas isto não deve ser motivo de deixarmos de orar por elas e de procurarmos abordá-las com exortações amorosas de encorajamento para retornarem ao redil. Ainda que algumas tenham sido tratadas com a disciplina da Aliança prescrita pelo próprio Senhor Jesus Cristo, não nos é dado desprezá-las e deixar de amá-las e de interceder em favor delas para a sua futura restauração pela via do arrependimento. E por que tudo isto? Porque são filhos de Deus. Adotados por Deus como filhos em Jesus Cristo. São amados de Deus. Reconciliados com Deus, ainda que estejam com sua comunhão presente arruinada por uma vida carnal e pecaminosa, porque o preço exigido para a justificação deles foi pago integralmente por Jesus, que nada deixou para que fosse pago por eles para poderem ser reconciliados com Deus. A inimizade que havia foi desfeita, porque “justificados pela graça mediante a fé temos paz com Deus por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. A guerra de inimizade por causa do
28
pecado acabou no momento em que nos rendemos por meio da fé em Jesus. Vemos assim quão preciosa é a condição que alcançamos por meio da fé do evangelho. Uma graça maravilhosa e poderosa nos está sendo oferecida para que possamos por meio dela viver de modo agradável a Deus. Somente por ela poderíamos ser livrados da condição de completa miséria em que nos encontrávamos por causa do pecado, conforme o apóstolo descreve no terceiro capítulo de Romanos. Então, ainda que o fato de ser judeu tenha em si alguma vantagem, porque foi aos israelitas que Deus revelou a Sua Palavra, e por meio deste povo que trouxe Cristo ao mundo e com Ele a Sua salvação, no entanto, quanto ao que diz respeito à condição de escravidão por causa do pecado original, os judeus se encontram nas mesmas condições em que se encontram os gentios aos olhos de Deus. Todos que são libertos, o são, portanto, somente pelo modo descrito pelo apóstolo, sobretudo nos versos 9 a 18, das coisas que são condenadas pela Lei, de maneira que toda boca se feche diante de Deus, quanto à tentativa de alegar diante dEle qualquer tipo de justiça ou mérito pessoal.
29
Pela exposição dos versos 3 a 8 Paulo demonstrou que o fato de alguns judeus, na verdade a maioria deles, não viver em conformidade com a vontade de Deus, por não serem convertidos, não demonstrava que a fidelidade de Deus havia sido aniquilada, ao contrário, comprovava que Ele é fiel em cumprir o que prometeu, porque apesar de toda a infidelidade deles quanto à antiga aliança, por cerca de 14 séculos, deu-lhes ainda assim um Salvador. Assim, a injustiça deles trouxe à luz a bondade e a misericórdia de Deus, na pessoa de Jesus. Deus permitiu e tem permitido a longa existência do pecado no mundo, para exibir o quanto é longânimo, perdoador, misericordioso, justo e bondoso. Todavia, aqueles que afirmam que é bom praticar o pecado porque a graça tudo perdoa, demonstram com esta sua atitude que não conhecem de fato a Cristo, porque caso fossem convertidos, saberiam que os que assim pensam encontram-se condenados por permanecerem na prática deliberada do pecado, como Paulo afirma em Rom 3.8, pois os que têm sido de fato convertidos pela graça detestam o pecado e amam a santidade que há em Jesus. É importante lembrar que já a partir deste capítulo o grande tema dominante desta
30
epístola é o da justificação pela graça mediante a fé, sem o concurso das obras. Paulo falou também de santificação a partir do sexto capítulo. É muito importante ter sempre isto em vista ao estudar esta epístola para que não se faça uma confusão entre justificação e santificação, porque a justificação e a regeneração são instantâneas e acontecem no momento em que a pessoa se converte e passa a ter a habitação do Espírito Santo. E isto ocorre de uma vez para sempre, sem ser anulado. São atos irrevogáveis de Deus. Já a santificação é um processo de negar-se a si mesmo e carregar a cruz seguindo a Jesus dia a dia. É o ato que dura toda a vida, e que consiste no despojamento do velho homem e do crescimento na graça e no conhecimento de Jesus. Então ao dizer que por obras da lei ninguém pode ser justificado, o apóstolo não estava negando a importância da lei, mas mostrando que ela não tem nenhuma participação no trabalho que é realizado para a nossa justificação e regeneração, senão somente auxiliar o Espírito Santo no Seu trabalho de nos
31
convencer que somos pecadores e que necessitamos portanto de um Salvador. Deste modo, Paulo fechou este capítulo dizendo que a fé do evangelho não está destinada a remover a lei, mas confirmar a lei, isto é, tanto sabemos pela fé o quanto a lei de Deus é perfeita em mostrar o Seu caráter e a nossa miséria, e o quanto podemos viver de modo que satisfaça as exigências da lei, somente quando somos convertidos pelo evangelho da graça de Cristo. Por isso Paulo afirma no verso 32: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.”.
32
V – Justificados somente por fé
Paulo dedicou todo o quarto capítulo de Romanos para explicar o significado da justificação que é por meio da fé em Jesus. É importante que seja destacado que aqui neste capítulo, o apóstolo não está explicando o que é a santificação, mas somente a justificação, ou seja, o ato judicial declarativo de Deus pelo qual somos considerados justos por Ele. Paulo demonstrou como é que a nossa justificação, que nos traz a salvação, é realizada somente pela graça, mediante a fé. É importante observar como ele ordenou os argumentos nesta epístola aos Romanos, uma vez que primeiro apresentou a condição decaída no pecado e sujeita à condenação (cap 1 e 2); depois a forma como se é livrado da condenação pela justificação, que é o ato declarativo de Deus que nos torna seus filhos para sempre (cap 3 a 5); depois o significado da expiação e a consequente consagração pelo processo da nossa santificação (cap 6); depois apresentou a posição firme na qual todo crente se encontra diante de Deus por causa da sua união com Jesus, a par da sua luta interior (cap 7), e das provações externas (cap 8), e em tudo isto, sempre mostrando como somente é possível ser
33
vitorioso sobre a carne, o diabo e o mundo, por causa da nossa união espiritual com Cristo, por meio da fé. No capítulo 9º Paulo discorre sobre a predestinação e eleição que foram a causa desta justificação e santificação referidas nos capítulos anteriores; no 10º sobre o dever e o modo de se proclamar o evangelho; no 11º sobre a condição do povo de Israel perante Deus; do 12º ao 16º discorre principalmente sobre qual deve ser a conduta dos que foram salvos pelo evangelho. Lembremos, portanto, ao estudarmos agora o quarto capítulo de Romanos, que ele se refere exclusivamente à justificação. Na verdade, nem na justificação, nem na santificação, temos motivo para nos gloriar em nós mesmos, tal como Abraão não tinha motivos para se gloriar, pois foi também justificado pela fé. Não somente por causa do argumento de que esta justificação é por pura graça e misericórdia de Deus, excluindo qualquer mérito do homem, como também pela verdade que toda a glória é devida ao Senhor, porque somente Ele é o Criador e o Salvador. Sem Ele nada existiria. Sem Ele não haveria nenhuma salvação, nenhuma eleição,
34
nenhuma justificação, nenhuma santificação, nenhuma glorificação, nenhuma cura, nenhum livramento da condenação, nenhuma herança para o cristão no céu. Então, ao afirmar que se Abraão tivesse sido justificado por obras, teria motivo de se gloriar, mas não diante de Deus, Paulo queria dizer que ele teria realmente motivo de se gloriar em si mesmo, caso fosse possível alguém ser justificado por suas obras. Mas, como isto é impossível, então ninguém deve se gloriar em si mesmo, senão somente no próprio Deus, que tudo opera em todos, e por meio de quem são todas as coisas. Deste modo, não está sendo enfocado por Paulo que haja alguma obrigação de Deus em dar a salvação a qualquer pessoa como uma espécie de salário, de pagamento de uma dívida, por alguma boa obra que tenha sido praticada por aquele a quem Ele salvou. Como Deus sabia que não haveria no homem nenhum modo de salvar a si mesmo do pecado, Ele deliberou, desde a eternidade, salvar pela graça mediante a fé. Então se uma pessoa insiste em ser salva por obras, ela permanecerá sob a condenação de Deus, porque está sendo desobediente à Sua ordenação, de que aquele que for salvo, o será
35
pela Sua graça, e mediante a fé. Tentar fazer valer a própria justiça sempre nos deixará desprovidos daquela Justiça que nos vem da parte de Deus pelo evangelho. Por isso é necessário o trabalho de convencimento do nosso pecado, pelo Espírito Santo, para que possamos nos arrepender e com isto ser justificados por depositarmos nossa confiança total e exclusivamente em Jesus. As boas obras devem ser praticadas, mas não com o fim de sermos salvos por Cristo, porque isto ocorre somente pela graça e por meio da fé. Estas boas obras se referem em primeiro lugar à transformação progressiva e gradual do cristão à imagem de Jesus, e depois se manifestam em atos de justiça, amor e bondade em relação ao próximo, porque esta é a consequência imediata daquele que tem caminhado com Deus, por ter sido reconciliado com Ele por meio da fé em Jesus. É pela fé no sangue que Jesus derramou na cruz que somos lavados e perdoados dos nossos pecados. Deus revelou esta verdade pelo Espírito ao rei Davi, a qual lemos no Sl 32.1,2, cujas palavras Paulo usou em Rom 4.7 e 8:
36
“7 Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. 8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.” Então a justificação é uma declaração da parte de Deus em relação a quem se converte, de que esta pessoa é agora justa diante dEle, ou seja, está justificada do pecado, por causa da obra realizada por Jesus em seu favor. Esta justiça que é atribuída ao homem é decorrente da justiça do próprio Cristo. É a veste de Cristo com a qual ele agora está vestido. Uma vez justificado, ele é chamado a ser justo em todo o seu procedimento, e assim há uma justiça procedente de Deus que deve ser nele implantada pelo Espírito, de maneira que seja aperfeiçoado na justiça evangélica, mas isto não faz parte do ato da justificação, que como vimos antes, é uma declaração feita por Deus de que somos agora justos aos Seus olhos por causa de Cristo, e não uma implantação da Sua justiça em nós. Esta implantação da justiça é feita pela regeneração e santificação do Espírito Santo, sendo que a santificação é um processo progressivo, e não instantâneo tal como se dá com a justificação e a regeneração, quando do
37
nosso encontro pessoal com Jesus na nossa conversão. E esta bênção da justificação, que nos dá a salvação, não é somente para os judeus, uma vez que Abraão foi justificado pela fé, quando ainda era um gentio em Ur dos caldeus; e foi circuncidado em seu prepúcio somente depois de ter crido em Deus e ter sido justificado, de maneira que não é a circuncisão do prepúcio que justifica uma pessoa conforme os judeus costumavam ensinar, porque não foi por ter sido circuncidado que Abraão foi justificado. Aconteceu justamente o contrário: ele foi circuncidado porque foi justificado, isto é, ele recebeu a circuncisão como um sinal comprobatório da justificação que é pela fé. De maneira que os cristãos que são justificados devem trazer em si este sinal comprobatório que também foram circuncidados por terem crido, já não mais no prepúcio, mas no coração. A circuncisão dos judeus era um ato de despojamento da carne do prepúcio. Então a circuncisão do cristão na Nova Aliança com Cristo consiste no despojamento da carne, não do prepúcio, mas do princípio operativo do pecado, que a Bíblia chama de carne; e que
38
consiste em tudo aquilo que nos impeça de ter uma vida de comunhão no espírito com Deus. Lembremos que o motivo alegado por Deus de que não permaneceria mais atuando nos homens nos dias de Noé, porque estes eram carnais, significava que eles haviam se tornado insensíveis, e completamente endurecidos à ação do Espírito Santo que procurava conduzi-los ao arrependimento, conforme lemos em Gên 6.3. Deve ser levado em conta também que a promessa da Nova Aliança foi feita a Abraão, mais de quatrocentos anos antes da Lei ter sido dada a Moisés no Sinai. Isto significa que ao dizer que no Descendente de Abraão, que é Cristo, seriam benditas, todas as nações da terra, Deus estava mostrando que o modo de alguém ser salvo não seria por causa da Lei, mas pela promessa que fez a Abraão, de salvar também a muitos do mesmo modo como fizera com Abraão, a saber, somente pela fé. Se a herança prometida a Abraão, de uma pátria celestial, para ele e aqueles que seriam considerados seus descendentes, tivesse sido feita pela Lei, a promessa de Deus teria sido aniquilada, mas isto é impossível, porque não foi pela Lei, mas pela justiça que é pela fé, que os homens são salvos, como Paulo afirma nos
39
versos 13 e 14 deste quarto capítulo de Romanos, conforme a promessa feita a Abraão. Se a promessa fosse pelas obras da Lei todos continuariam debaixo da ira e da maldição de Deus, porque não há quem guarde perfeitamente todos os mandamentos, durante todos os dias da sua vida. De modo que se alguém pretendesse ser salvo pela Lei e não pela fé, esta seria a única maneira de ser salvo, a saber, pela guarda perfeita da Lei. Ainda que a Lei não deva ser desconsiderada e descumprida, mas amada e obedecida, não há quem possa cumpri-la perfeitamente, porque o princípio do pecado permanece operando na carne e exigindo que seja mortificado diariamente pela operação da cruz. Então, todos os homens, de todas as épocas, quer antes da Lei, como foi o caso de Abraão, quer depois da Lei, depois de Moisés, sempre foram e continuarão sendo justificados somente pela fé, de maneira que sendo por fé, a justificação será pela graça do Senhor, conforme Ele estabeleceu, para que ninguém se glorie diante dEle por suas próprias obras, como Paulo afirma no verso 16. Assim o registro da justificação de Abraão pela fé, não se encontra em Gên 12, somente por causa dele, mas também por nós que temos sido
40
justificados pela mesma fé com a qual ele foi justificado, para que não somente estejamos convictos sobre o modo pelo qual Deus salva, mas para que possamos ser efetivamente salvos da mesma maneira como Ele salvou Abraão, como se vê em Gên 15.6: “E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça.”. A grande prova que a justificação que dá vida eterna é pela fé no Filho de Deus reside na ressurreição de Jesus. Portanto, pela Sua ressurreição Ele comprovou que possui o poder de dar vida eterna aos que estão mortos em seus pecados, a saber todos os homens, e dentre os quais se encontrava o próprio Abraão. E a ressurreição de Jesus foi também o sinal confirmatório de que a justiça divina havia sido plenamente satisfeita. É importante saber que não há nenhum resto mortal de Jesus na terra; assim como também não há de Elias e Enoque, porque foram arrebatados. Mas nenhum dos dois ressuscitou dos mortos como Jesus havia ressuscitado antes de Ele ter subido ao céu, num corpo glorificado, depois de ter experimentado a morte por todos os
41
homens, para dar vida aos que creem no Seu nome, de modo que somente o Senhor Jesus é primícia dos que dormem, quanto à promessa da ressurreição futura de seus corpos no dia do Arrebatamento.
42
VI – O fundamento, o modo e os
efeitos da justificação
(Romanos 5)
Paulo não encerrou ainda o assunto da justificação pela fé, mas começou este quinto capítulo mostrando que já havia apresentado uma ampla definição sobre o modo da salvação que é mediante a justificação. Agora ele vai começar a falar dos efeitos desta justificação pela graça, mediante a fé. O primeiro deles é que por meio dela fomos resgatados da maldição da Lei, que afirma que é maldito de Deus todo aquele que não cumpre perfeitamente todos os seus mandamentos, e por conseguinte, somos livrados também da ira de Deus contra o pecado. Enquanto o homem não é justificado, Deus permanece em guerra com ele. Mas uma vez justificado, a guerra termina, porque é reconciliado com Deus por meio de Jesus, de maneira que se diz que agora desfruta de paz com Ele, em vez de se encontrar sujeito à Sua ira que se manifestaria certamente no dia do juízo, sujeitando-o a uma condenação eterna. Por meio da justificação o cristão passa a participar da graça do evangelho, na qual ele estará firmemente seguro por causa da obra
43
perfeita de redenção que foi feita em seu favor por Jesus. Isto significa que ainda que ele venha a decair da graça, pela prática de pecados eventuais, esta queda nunca será numa forma final e definitiva, porque foi transformado em filho de Deus, por meio da justificação. É a justificação que abre também para nós a esperança firme e segura de que participaremos da glória de Deus, como Paulo afirma no verso 2. Mas os efeitos da justificação não param por aí, porque uma vez sendo transformados em filhos de Deus, passamos a contar com a assistência da graça, a qual nos fortalece e ampara nas tribulações pelas quais a nossa fé é colocada à prova, para que possa crescer. De maneira que isto não é para motivo de tristeza, mas para se dar glória a Deus, porque prova que de fato nos tornamos Seus filhos, e que agora estamos sendo aperfeiçoados por Ele através das tribulações, para que aprendamos a perseverança, a experiência e a esperança (v. 2,3). Quando Paulo diz no verso 5 que a esperança não traz confusão porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado na justificação, o significado disto é que esta esperança
44
evangélica é de plena e segura certeza do que temos recebido em Cristo, pela testificação do Espírito Santo. De maneira que quando alguém se converte de fato a Cristo, sendo justificado, tal pessoa não estará mais confusa acerca firmeza eterna da sua união com Deus, porque isto será aprendido através da sua paciência nas tribulações, que por fim lhe confirmarão na experiência e na esperança cristã. E como Paulo disse nos versos 3 e 4, esta esperança será fortalecida e aperfeiçoada pelas próprias tribulações, porque veremos o poder operante de Deus em meio a elas, nos conduzindo em triunfo em Cristo, porque a fé verdadeira que salva não pode ser destruída, e não recuará diante das aflições, porque é o próprio Deus quem fortalece aqueles que são agora Seus filhos. De modo que o apóstolo nos assegura no v. 5 que, como efeito da paciência que podemos ter pelo Espírito, nas tribulações, depois de variadas experiências disto, seremos confirmados na fé, e com esta esperança inabalável da certeza do que temos alcançado em Cristo, quanto à segurança eterna da nossa salvação, toda dúvida e confusão de mente serão eliminadas de nós, pela certeza do amor de Deus por nós e em nós, em toda e qualquer circunstância.
45
"E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." (v.5) Mas o apóstolo acrescentou argumentos ao que havia falado antes, para demonstrar que de fato a nossa esperança não é algo incerto, mas algo a respeito do qual podemos ter a plena certeza de que jamais será frustrada. E o grande argumento que Ele apresentou é que quando Cristo morreu por nós, ainda éramos fracos e ímpios. Não foi por pessoas santas, e perfeitas na fé, que Ele morreu, mas por pecadores fracos e ímpios (não piedosos), como éramos todos nós antes da conversão. Então se Jesus fez isto quando estávamos nesta condição de fraqueza para fazer a vontade Deus, e de impiedade, quanto mais não garantirá a nossa salvação depois de termos sido tornados santificados pela Sua Palavra e pelo Espírito Santo, e fortalecidos pela Sua graça? Deste modo, Jesus não morreu por justos, mas por injustos. E se demonstrou o Seu amor por nós quando éramos ainda pecadores que nada ou pouco conheciam e viviam da santidade de Deus,
46
muito mais podemos estar certos então de que não nos deixará e desamparará depois que fomos justificados pelo Seu sangue e adotados como filhos de Deus. Podemos então ter a certeza da esperança que seremos salvos por Ele da ira vindoura, no Dia do Grande Juízo de Deus. Outro grande argumento é o de que Deus nos reconciliou consigo mesmo através da morte de Jesus quando éramos Seus inimigos, porque vivíamos transgredindo os Seus mandamentos e indiferentes quanto ao modo como deveríamos andar na Sua presença. Esta condição de inimizade com Deus, é decorrente da natureza pecaminosa que possuímos. Portanto, se fomos reconciliados quando éramos inimigos, muito mais permaneceremos reconciliados depois que nos tornamos seus amigos por meio de Jesus. Então podemos estar certos da segurança da nossa salvação por causa da vida de Jesus, que vive para interceder por nós e garantir plenamente aquilo que obtivemos como herança, por meio da fé nEle. Mas além destes argumentos Paulo destacou no verso 11 que é um dever nos gloriarmos em
47
Deus, isto é, tributar-Lhe toda honra e glória, pelo que é em Si mesmo, uma vez que nos permitiu alcançar a reconciliação que dá vida eterna por meio de Jesus. A partir do verso 11 deste quinto capítulo, Paulo discorreu sobre o pecado original, para demonstrar que a causa da condenação é decorrente principalmente dele, e não somente das transgressões que cometemos diariamente. Aqui cabe abrir um parêntesis para refletirmos devidamente, por que teria o apóstolo se referido ao trabalho das tribulações no nosso aperfeiçoamento espiritual, no nosso crescimento na graça na qual estamos firmes. Certamente, ele não o fizera nesta passagem, simplesmente com o intuito de nos confortar em nossas provações e aflições, mas para demonstrar que o fato de estar em Jesus, a par de termos agora paz com Deus, de não sermos mais inimigos de Deus, por causa da paz obtida pela justificação que é pela graça e pela fé, abriu uma nova frente de guerra que tem em vista subjugar o nosso ego, a nos despojar do corpo de pecado - para que nos acheguemos cada vez mais à íntima comunhão com Jesus - e isto será feito sobretudo pelas tribulações, nas quais Deus, em Sua providência, provará a cada um de seus filhos, conforme as suas necessidades respectivas de transformação, para implantar neles o caráter do próprio Jesus Cristo.
48
Foi a isto que o apóstolo quis se referir. Ele pretendia que nós entendêssemos que a salvação pela graça, a bênção da justificação, nos foram dadas gratuitamente por Deus, mas com o propósito de santificar as nossas vidas, de maneira que sejamos cada vez mais desmamados do mundo, por não nos conformarmos (tomar a forma) a ele, por meio da apresentação de nossos corpos como sacrifício vivo e santo no altar de Deus (Rom 12.1,2); e principalmente para nos tornar participantes da Sua santidade (Heb 12.10). O que herdamos de Adão foi crucificado na cruz, e devemos nos despojar deste "Adão" que resiste bravamente à morte, e que pretende permanecer no controle e domínio de sua própria vontade. Assim Deus interpõe as provações para que sejamos quebrados e dependentes de estarmos unidos a Ele para que sejamos vencedores, sujeitando-nos à Sua vontade, e não mais procurando fazer com que seja a nossa própria vontade pecaminosa que prevaleça, porque por ela, somos mantidos escravizados às coisas que são terrenas, e não apreciamos as que são celestiais, espirituais e divinas. Não há outra maneira, portanto, para que as nossas mentes carnais sejam renovadas em mentes espirituais, para que não julguemos
49
segundo os homens, mas segundo a mente de Cristo, que está sendo formada em nós. Deus sujeitou toda a humanidade à condenação por causa da transgressão de Adão. A Bíblia diz que todos foram encerrados debaixo do pecado por causa da transgressão de Adão. A morte entrou no mundo por causa do pecado de Adão, porque Deus lhe disse que caso comesse do fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele morreria, e com ele, toda a sua descendência. E esta morte ocorreu simultaneamente ao ato da desobediência - a morte do espírito, que ficou separado da comunhão com Deus. Assim, debaixo da cabeça desobediente que é Adão todos morrem, mas os que estiverem debaixo da cabeça obediente e justa de Cristo viverão eternamente. Não se pense que não somos culpados por nossos próprios pecados, ou que somos castigados porque estamos respondendo pelo pecado de Adão, porque, afinal, não há quem não peque. E a Lei Régia do grande Juiz e Legislador afirma expressamente que qualquer ato de desobediência gera a morte.
50
Adão foi alertado sobre esta Lei Régia, pois Deus fizera uma aliança com ele e com toda a sua descendência, com a previsão desta pena capital que exige a morte física, espiritual e eterna de todo aquele que transgredir qualquer um dos Seus mandamentos. Como o pecado entrou no mundo através de Adão, por isso todos os homens estão mortos em delitos e pecados, porque desde então o pecado passou a reinar sobre todos; mas por meio da graça de Jesus muitos são justificados para a vida eterna no Espírito, porque os efeitos do dom da graça foram concedidos por Deus de maneira muito mais abundante do que a sentença de morte por causa da transgressão de Adão. Porque a condenação entrou no mundo por causa de uma só ofensa, a saber, a de Adão no Éden. Mas a justificação é imputada individualmente a cada pessoa que se converte, perdoando-lhe todas as suas muitas ofensas, como Paulo afirma nos versos 15 e 16. De maneira que quando somos perdoados por Deus o que está sendo perdoado não é o pecado que Adão cometeu no Éden, mas os nossos próprios pecados.
51
Então se a morte reinou por causa da ofensa de um só homem, a saber, Adão, Deus proveu um meio para que a graça e o dom da justiça sejam muito mais abundantes, porque por meio de Cristo está perdoando muitas transgressões, de muitos pecadores, como Paulo afirma no verso 17. Mas a base da justificação está relacionada a uma só ofensa, a saber, a de Adão no Éden; e a um só ato de justiça, a saber, Cristo guardando toda a Lei e morrendo por nós na cruz. E especificamente este um só ato de justiça significa que a justificação é atribuída de uma única vez para sempre; do mesmo modo que a imputação do pecado e da morte que lhe é consequente, foram imputados de uma vez para sempre desde a transgressão de Adão. Então se a desobediência de Adão fez com que todos se tornassem pecadores, e estes não são poucos, porque são muitos, uma vez que diz respeito a toda a humanidade, de igual modo, a obediência de Jesus é a causa da justificação de muitos, a saber de todos os que estão unidos a Ele pela fé. Então na justificação há uma diferença em relação à condenação quanto ao modo de imputação, porque se todos os homens são herdeiros de Adão, e estão ligados a Ele por descendência, nem todos estão ligados a Cristo,
52
porque a união com Cristo não é natural, mas espiritual, e demanda a necessidade de conversão para que possamos nos tornar co-herdeiros com Ele. Daí ser ordenado por Deus que se pregue o evangelho a todos, de modo que tenham a oportunidade de alcançarem a vida eterna que está em nosso Senhor Jesus Cristo. Um dos propósitos da Lei foi para que a ofensa ficasse bem patente aos olhos dos pecadores; revelando que há abundância de pecado no mundo. Mas pelo Seu plano de salvação Deus tem feito com que a graça seja muito mais abundante do que este pecado abundante, porque em Cristo todas as transgressões são apagadas e esquecidas, por causa da justificação. Isto porque como o pecado reinava na vida do pecador gerando a morte, Deus estabeleceu o grande contraste fazendo com que a graça que se opõe ao pecado reine agora no lugar do princípio operativo do pecado, por meio da justificação, para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo; de modo que quem reina agora na vida do crente é a graça, e não mais o pecado, que foi destronado da sua antiga condição de senhor absoluto no coração do cristão.
53
E esta graça está em Cristo, e portanto, é somente na comunhão com Ele que podemos desfrutá-la.
54
VII – Justificados para ser santificados (Romanos 6) Após ter discorrido consistentemente sobre a obra que Jesus realizou em nosso favor para sermos justificados somente pela graça e mediante a fé nEle, nos capítulos 3 a 5 de Romanos, o apóstolo vai nos revelar adiante, se por uma lado esta justificação nos trouxe paz, reconciliação com Deus, por outro, ela abriu uma verdadeira e contínua guerra contra o pecado que habita em nossa própria natureza terrena, que apesar de já não reinar como um senhor absoluto sobre a nossa vontade, pois quem reina agora é a graça por meio de Cristo Jesus, todavia, não resta qualquer alternativa para quem foi justificado senão a de ser imitador de Deus como seu filho amado. Foi para este propósito de nos purificar do pecado que Jesus morreu no nosso lugar, carregando sobre Si mesmo os nossos pecados e culpa, no madeiro. É aqui, pela negligência desta verdade, que podemos entender a atual apostasia da Igreja, justamente por fazer concessões a tantas formas de pecado, pela incompreensão do fato de que por se estar debaixo da graça de Cristo, e não mais condenado pela Lei, não somos
55
autorizados por Deus a continuar na prática do pecado. O vencedor ao qual Jesus se refere nos capítulos 2 e 3 do livro de Apocalipse, é sobretudo aquele que venceu as suas paixões carnais por trazê-las constantemente crucificadas, por meio da vigilância e oração contínuas e perseverantes, num procedimento inteiramente santo, ou então que esteja aplicado na busca sincera deste objetivo. Alguém indagará: “mas como viver uma vida de pureza num mundo tão poluído como este chamado mundo pós-moderno no qual temos vivido? Como viver uma vida de fé em verdades absolutas num mundo em que quase tudo é considerado como verdades ocasionais e relativas?” Mas é justamente nisto que consiste a profecia bíblica de que este tempo do fim, seria de dias difíceis para se viver a vida cristã conforme ela convém ser vivida, porque são múltiplas e variadas as formas de tentação que guerreiam contra a alma do crente. Contudo, ele não será aprovado por Deus se não lutar e prevalecer contra toda forma de pecado, quer em pensamentos, atos ou palavras, porque Deus não muda, e a Sua vontade e Palavra também são imutáveis.
56
As ordenanças bíblicas para que se tenha um coração puro, uma vida casta, um pensamento que se fixe somente em “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” (Fp 4.8) E sobre nós soa constantemente a advertência do Senhor quanto ao uso que fazemos dos nossos sentidos que nos colocam em contato com o mundo em que vivemos. “Mat 6:22 São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; Mat 6:23 se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” Especialmente os que são jovens, devem ter uma particular atenção e cuidado em relação a isto, fugindo sempre das paixões que são mais inerentes à mocidade. Então, não é nada fácil ter uma vida consagrada a Deus nestes dias, pois somos chamados a ser sal e luz neste mundo de trevas, sem que nos deixemos contaminar por ele.
57
Assim, como no dizer do apóstolo, quem quiser ser vaso de honra e idôneo para uso do Senhor, terá que se purificar de todos estes erros que nos afastam da comunhão com Deus (II Tim 2.20-22). Não basta ter a intenção de vencer o pecado para que se possa servir a Deus de modo frutífero e aprovado, porque é possível estar bem-intencionado e continuar sendo vencido pelas paixões que guerreiam contra a alma. É recorrendo a Jesus e nos esforçando para atuar no Seu Reino que é de justiça, amor, paz, e santidade, que achamos graça e auxílio para vencermos nossas inclinações carnais, pois Ele as mortificará pelo Espírito Santo, que em nós habita, e colocará em nossos lábios uma canção de louvor ao nosso Deus, gratidão e paz nos nossos corações, e disposições santas para servi-Lo. Ninguém se iluda, portanto, que seja possível ser eficazmente usado por Deus, e viver de modo que lhe seja inteiramente agradável, quando se vive ainda na prática do pecado. E ninguém pense também que achará graça e auxílio para vencer o pecado aguardando que venha um poder inesperado do céu, sem que o busquemos, que nos vacine contra todo tipo de tentação e de inclinação carnal, pois não é assim que funciona a ação da graça de Jesus. Nós devemos caminhar na direção das coisas de
58
Deus nos esforçando em rejeitar e evitar aquelas coisas e comportamentos que são abomináveis para Ele, e então Ele nos dará a graça e a força necessárias para vencê-las. É assim que a nossa fidelidade a Ele é provada. E se porventura nos encontramos ainda endurecidos e com os nossos olhos vendados, de maneira a não sabermos o que é lícito ou não, o que nos convém ou não, devemos orar para que o Senhor nos revele estes pecados que ainda estão ocultos aos nossos olhos espirituais, e Ele certamente nos levará não somente a enxergá-los como também a ter verdadeiro horror desses pecados, dos quais fugiremos como quem foge de uma serpente venenosa. É basicamente nisto que consistem as exortações do apóstolo no sexto capítulo de Romanos. Tendo falado da justificação, ele iria argumentar agora a favor da consagração e da santificação, que devem se seguir ao ato da justificação. Ele começou afirmando a necessidade da mortificação do pecado, em face de termos sido justificados, porque foi para este propósito que Deus nos justificou em Cristo, a saber, para que pudéssemos permanecer diante dEle, santos e inculpáveis; condição esta que, a propósito já foi
59
conquistada para nós por Jesus na cruz, e na qual convém que andemos. Jesus morreu por causa dos nossos pecados, e é pela Sua morte que somos justificados, de maneira que não faz qualquer sentido permanecermos na prática do pecado, sendo vencidos por pecados, depois de termos sido justificados, porque isto corresponde a agir contra o propósito eterno de Deus relativo à nossa salvação, e contra a própria nova natureza que recebemos do alto, quando formos regenerados pelo Espírito Santo no dia da nossa conversão a Cristo. A morte de Jesus na cruz é considerada por Deus como sendo a morte do próprio cristão, porque foi uma morte substitutiva. Afinal aquela morte estava destinada a nós pecadores. Jesus não tinha pecado, havia guardado perfeitamente toda a Lei, e, portanto, não era digno de morrer. Então, pôde carregar sobre Si os nossos pecados, colocando-se no nosso lugar. Foram os nossos pecados a verdadeira causa da Sua morte, e não simplesmente a perseguição que sofreu por parte dos principais sacerdotes, escribas e fariseus.
60
Como Ele morreu por causa do pecado e para nos livrar da prática do pecado, como poderia ser admitido o raciocínio de que já que Ele justifica pecadores, não há, portanto, nenhum mal em viver na prática do pecado, porque afinal a graça nos perdoará? Esta forma de pensar é induzida pelo fato de o pecado ser tão comum na sociedade, e tão inerente à velha natureza terrena, que ainda trazemos conosco enquanto vivermos neste mundo, que parece a muitos que Deus não se importa com a prática do pecado. Não podemos esquecer, no entanto, que não há um só pecado em nenhum dos seres que vivem no céu. E que Adão e Eva foram criados perfeitos sem qualquer pecado. Então a vinda de Jesus a este mundo, encarnando num corpo como o nosso para morrer no nosso lugar, teve por propósito principal nos livrar da prática do pecado, e nos restaurar àquela condição inicial sem pecado com a qual o homem foi criado. Isto equivale a dizer que a vontade de Deus em relação a Seus filhos é que sejam verdadeiramente santos, e que se santifiquem cada vez mais, através do processo da santificação pelo Espírito, mediante aplicação da Sua Palavra, como Jesus intercedeu em favor dos cristãos em João 17.17.
61
Nós já fomos limpos pela Palavra do Senhor na nossa conversão, e com ela, recebemos uma expressiva santificação pela Palavra que foi implantada em nós, mas importa que nossos pés espirituais sejam continuamente purificados das contaminações que recebemos por termos que viver e andar neste mundo de trevas espirituais; além da necessidade que temos de prosseguir no crescimento na graça e no conhecimento de Jesus. Deste modo, Deus considera todo cristão morto para o pecado, e é assim, portanto, que cada cristão deve considerar a Si mesmo, para que esteja em acordo com a visão de Deus relativamente a ele, conforme Paulo afirma no verso 2. Os que foram batizados em Cristo, não propriamente nas águas do batismo, mas no próprio Cristo, pela comunhão espiritual com Ele, foram batizados também na Sua morte, como Paulo afirma no verso 3. Na verdade, quando somos justificados, passamos a ser identificados com tudo que há em Cristo, porque o Pai planejou que fôssemos co-herdeiros com Ele em todas as coisas, inclusive nos Seus sofrimentos. Por isso temos uma cruz, porque Ele também teve a Sua.
62
Temos aflições neste mundo, porque Ele também padeceu terríveis sofrimentos e perseguições por causa da justiça do evangelho. Mas assim como Ele tem um trono no céu, nós também teremos um trono. Assim como Ele ressuscitou, também seremos ressuscitados. Enfim, somos chamados a participar juntamente com Ele de todas as coisas que Lhe pertencem. Assim, a vida que temos neste mundo deve ser a que Ele viveu, isto é, uma vida no poder do Espírito Santo, e mortificando o pecado de nossa natureza terrena, para que Deus possa ser glorificado, como Paulo diz no verso 4. Fomos batizados tanto na semelhança da morte quanto da ressurreição de Jesus. Então é morrendo para o pecado, pelo ato de carregar voluntariamente a nossa cruz, que poderemos experimentar também o poder da vida ressurreta que Ele experimentou depois da morte, como se vê no verso 5. O corpo do pecado deve ser desfeito, a saber, o nosso velho modo de vida, e tudo aquilo que pertence à carne, ao diabo e a tudo que se opõe à vontade de Deus, que a Bíblia chama de
63
mundo, de maneira que sabendo que o nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo, não devemos viver mais servindo ao pecado, como se lê no verso 6. A justificação do pecado aconteceu exatamente por causa do fato de estarmos mortos em relação ao nosso velho homem. Jesus veio para que tenhamos vida abundante, espiritual e eterna. O diabo veio para roubar, matar e destruir. Então esta morte não é o grande alvo da vida cristã, porque vem chegando o dia em que já não existirá mais morte, nem mortificação do pecado, senão a nova vida que obtivemos em Cristo. Então o propósito de mortificar o pecado é para que tenhamos, a verdadeira vida celestial, espiritual e divina. O alvo do evangelho é trocar a tristeza pela alegria. Dar-nos uma grinalda em vez de cinzas. Trocar o espírito angustiado pelo louvor, conforme vemos em Isaías 61.2,3.
64
Mas nada disso é possível, se não passarmos antes pela mortificação da carne, com as suas paixões, através da cruz, como lemos no verso 8. Era precisamente isto que o Espírito Santo pretendeu ensinar através de Paulo neste sexto capítulo de Romanos. Assim como Cristo morreu e ressuscitou e já não pode morrer mais, de igual modo nós, ainda que morramos fisicamente, viveremos para sempre com Ele em espírito. E isto é verdadeiro tanto em relação à morte espiritual por causa do pecado, quanto à morte física, porque se morrermos para o pecado pelo despojamento do velho homem, com a crucificação das obras da carne, nós viveremos espiritualmente, porque acharemos a vida poderosa do Espírito do outro lado da cruz, e o nosso corpo será ressuscitado por ocasião da segunda vinda do Senhor. De maneira que em Cristo temos vida e não morte. O que morre é o pecado. A velha criatura. Mas a nova criatura vive, e viverá eternamente por causa de Jesus. É àquela mesma justiça evangélica à qual nos referimos anteriormente, no comentário do
65
terceiro capítulo, que devemos nos consagrar depois de justificados. Devemos saber que estamos numa nova dispensação, a saber, a da graça, a do Espírito, a da justiça evangélica, a do tempo da paciência de Deus, que tem colocado à nossa disposição todos os dons e graças necessários para a nossa santificação. Falamos justiça evangélica porque temos por meio dela um Deus que é misericordioso e longânimo para com as nossas iniquidades e transgressões conforme prometeu que faria neste tempo da dispensação da graça (Jer 31.31-35). De modo que nesta justiça do evangelho também está o incluído o perdão de Deus que nos é concedido por meio do nosso arrependimento, uma vez que Jesus já sofreu no nosso lugar e pagou inteiramente a nossa dívida de pecados. Deste modo, o cristão que não estiver se consagrando a Deus pela santificação, está vivendo de modo contrário à Sua vontade; pois todos os meios necessários a esta consagração já foram providos por Ele em Jesus Cristo e na obra que realizou em nosso favor. A confissão dos pecados é um deles, para que possamos prosseguir em nossa comunhão com o Senhor.
66
Isto não é apenas uma questão doutrinária, mas uma verdade que se demonstra nas Escrituras e na vida. Aqueles que se consagrarem a Deus experimentarão o poder santificador da Palavra e do Espírito Santo, porque o próprio Deus efetuará neles tanto o querer quanto o realizar para o desenvolvimento da salvação deles, em crescimento espiritual. O fato de não se estar mais debaixo de uma Antiga Aliança, a da Lei de Moisés, e de se estar debaixo de uma Nova Aliança, a da graça, não é nenhum salvo conduto que estamos recebendo da parte de Deus para permanecermos no pecado, como Paulo afirma no verso 15; sob a alegação de que afinal o sangue de Jesus cobrirá todo e qualquer pecado que pratiquemos, ainda que deliberadamente. Aqueles que entristecem e apagam o Espírito Santo deliberadamente, não podem contar com o Seu consolo e companhia, enquanto endurecidos pelo pecado. Apesar de Paulo não detalhar todas as consequências de uma desobediência voluntária de cristãos, neste capítulo, ele colocou tudo de forma resumida no verso 16: “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos
67
daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” Os homens que permanecem escravizados ao pecado, por não terem sido libertados por meio da conversão a Jesus, caminham inexoravelmente para a morte eterna, porque este é o pagamento que o pecado lhes dará ao final da sua jornada nesta vida; mas os que obedecem ao evangelho e creem em Jesus para ser o seu Salvador e Senhor, são justificados, por isso diz o apóstolo: "da obediência para a justiça". Por isso ele se apressou em esclarecer que no caso de autênticos cristãos, é de se esperar que obedeçam de coração à forma de doutrina à qual foram entregues em decorrência de terem sido tornados participantes de Cristo, porque devem ser santos assim como Ele é santo, como se lê no verso 17. E uma vez que, foram libertados do pecado, não devem viver mais em servidão ao pecado, mas como servos da justiça evangélica, à qual foram submetidos por causa da justificação, como lemos no verso 18. Então ele falou no verso 19 sobre santificação em termos de usar os membros do corpo não mais para servir à impureza e à maldade, mas para servirem à justiça evangélica, com vistas à santificação. Antes da sua conversão, o cristão estava isento da disciplina da aliança, e da exigência da
68
santificação, porque afinal estava debaixo da ira de Deus, por não ser justificado, como se lê no verso 20. Mas o fruto daquelas ações passadas, anteriores à conversão, são agora, motivo de vergonha, porque o fim delas culminaria na morte, como se afirma no verso 21. Deste modo, uma vez que foi libertado do poder do pecado, pela justificação, em Jesus Cristo, e tendo sido feito servo de Deus, o cristão deve ser diligente em seu viver visando ao fruto da santificação, e por fim à vida eterna, porque é preciso perseverar até o fim para a plena certeza da salvação, e santificar-se, porque sem santificação ninguém verá o Senhor. É pela evidência da perseverança que provamos para nós mesmos que pertencemos de fato a Cristo, pois todo aquele que foi justificado e regenerado perseverará. Se a paga que receberíamos do pecado seria com certeza a morte eterna, devemos considerar que a vida eterna é um dom gratuito por meio de Jesus Cristo, como se lê no verso 23. Então deveríamos nos aplicar às coisas que dizem respeito a esta vida, pela santificação, e não às que são relativas à morte espiritual, e que se manifestam quando se vive na prática deliberada do pecado, negligenciando-se a necessidade da santificação da vida.
69
Como muito da força do velho homem foi destruída na regeneração, isto comprova que ele está destinado a desaparecer totalmente pelo trabalho da santificação que consiste pelo seu lado negativo neste despojamento do velho homem, e pelo lado positivo no ato de revestir-se do próprio Cristo. O conhecimento e a vivência desta verdade é de crucial importância, especialmente nestes últimos dias de apostasia da Igreja, porque o Arrebatamento está às portas, e aqueles que não estiverem santificados, seguindo o exemplo das cinco virgens imprudentes da parábola, correm o risco de serem deixados para trás para enfrentarem a Grande Tribulação e entrarem no milênio sem o corpo glorificado que receberão todos os crentes que forem arrebatados pelo Senhor. Jesus e os apóstolos nos fazem sérias e repetidas advertências na Palavra para que nos preparemos em santificação para o encontro com o Senhor entre nuvens. Ainda que o fato de alguns não serem arrebatados não signifique a perda da salvação para aqueles que não estiverem se santificando, todavia será uma grande desonra e dano para eles não participarem juntamente com seus irmãos das Bodas do Cordeiro no céu.
70
Quem em sã consciência gostaria de ver a sua obra sendo queimada pelo fogo da provação de Deus, por ter sido feita com restolho e madeira, e não com prata e ouro? Quem gostaria de deixar de ouvir no céu dos lábios do próprio Senhor o “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.”?
71
VIII – A graça tudo vencerá (Romanos 7) Neste sétimo capítulo de Romanos nós veremos a terrível luta que há mutuamente entre a carne e o Espírito Santo, ainda que não seja este o tema central deste capítulo, senão o da nova aliança que temos com Jesus, e pela qual somos libertados da condenação de uma aliança segundo a lei. Deus como o Grande Legislador e Juiz de todo o universo, criou o homem e fez com que ele fosse responsável perante Ele segundo a norma da lei moral que ele inscreveu em sua consciência, instalando ali um tribunal que age no próprio homem condenando-o naquilo que é reprovável e aprovando-o naquilo que é louvável. Mas, como já vimos anteriormente, segundo a Lei Régia há a exigência da perfeita obediência, conforme foi revelado a Adão, e que a penalidade para qualquer ato de desobediência é a morte, e todo homem responde à referida Lei até hoje. Posteriormente, nos dias de Abraão, Deus acrescentou novos mandamentos para serem guardados pelas pessoas da descendência do patriarca, com as quais formaria um povo para Si, para se revelar ao mundo através do mesmo, e principalmente para que por este povo nos fosse dado o Messias.
72
O caráter da obediência completa exigida de toda a humanidade da Lei Régia, que consiste na exigência do perfeito amor a Deus e ao próximo, foi ainda mais detalhado com os mandamentos que foram dados através de Moisés. E desde então, até que viesse o Messias, o modo de agradar a Deus, passava obrigatoriamente pelo cumprimento dos mandamentos da Lei. E a pena de morte para os desobedientes foi mantida porque se afirma na Lei de Moisés que é maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas da Lei, para cumpri-las. Isto descreve a condição de miséria espiritual e de condenação que paira sobre toda a humanidade, porque todos são pecadores, e não têm em si mesmos a condição e o poder para obedecerem perfeitamente a todos os mandamentos da Lei. Como poderia então Deus se prover de filhos semelhantes a Cristo? Se todos estão obrigados à Lei, como poderão ter vida, estando mortos; como poderão ser livres, estando condenados? Só havia um modo de Deus nos libertar da condenação da Lei e nos dar vida eterna, permanecendo Justo, por não remover ou contrariar a Lei. Isto Ele fez nos considerando como mortos para a Lei, por ter feito com que a
73
morte de Jesus na cruz fosse a nossa própria morte. Ele visitaria o Seu próprio Filho Unigênito com o castigo que era destinado a nós pecadores. Ele executaria a sentença de morte exigida pela Lei nEle, fazendo com que fosse feito pecado e maldição no nosso lugar. E assim, a Lei não seria removida, mas nós seríamos resgatados por meio de Cristo de debaixo da sua condenação e maldição. É basicamente isto que Paulo expõe no sétimo capítulo de Romanos; de modo que toda a argumentação que ele fizera quanto à condição de não se fazer o bem que queremos, e fazer o mal que não queremos, pelo pecado que opera na nossa carne, é sobretudo uma condição que explica sobretudo a condição em que se encontram aqueles que permanecem debaixo da Lei e não da graça do evangelho, a saber as pessoas que não foram regeneradas pelo Espírito Santo. Eles podem dizer: "miserável homem que sou" porque não têm a Cristo que é o único que pode nos livrar do corpo desta morte. E este livramento que se obtém somente por Cristo e em Cristo, não é decorrente do fato de que agora os próprios crentes são perfeitos segundo a Lei, porque sempre haverá resquícios
74
de pecado e de desobediência em sua natureza terrena que ainda carregam neste mundo, mas sim, e exclusivamente pelo fato de que foram resgatados da condenação da Lei por terem morrido para a Lei em Cristo. Uma Lei não tem autoridade sobre quem já está morto. Assim, os crentes já não são julgados ou condenados por Deus com base na Lei, porque não estão mais debaixo da Lei, quanto ao que se refere ao seu poder de condenação daqueles que pecam contra os seus mandamentos. Eles são julgados agora pela lei da liberdade, respondendo, livres que são, não mais a um Juiz, mas a um Pai de amor, que os corrige e dirige como filhos amados, por causa de Jesus Cristo. Haverá ainda um grande conflito entre o Espírito e a carne, entre a velha e a nova natureza, em todos os crentes, mas juntamente com Paulo eles podem dizer em uníssono: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor." Não serão mais condenados por não serem tão bem-sucedidos nesta guerra contra as suas almas, quanto gostariam de ser. Contudo, sabem que são amigos de Deus, que amam a Deus, que odeiam o diabo e o pecado, e que por fim serão transformados à perfeita imagem de Jesus, ainda que isto ocorra somente na glória. Todavia, esta grande verdade central do evangelho não deve servir de motivo para que
75
abusemos da liberdade que foi conquistada para nós por um preço elevadíssimo de sangue, e não de um sangue qualquer, senão o puro e imaculado sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Preço este que foi pago para que livres do pecado, pudéssemos viver em novidade de vida santificada perante Deus. Afinal, foi para isto que fomos chamados e justificados. E para vivermos esta vida santa sem a qual não podemos manter nossa comunhão com Deus, necessitamos de poder do alto. Veja que quando os apóstolos viram todos os sinais que Jesus havia realizado, Sua ressurreição e ascensão, a uma mente carnal pareceria que isto seria o suficiente para que eles saíssem pelo mundo afora dando testemunho das coisas que haviam visto e ouvido. Todavia, nosso Senhor lhes falou da necessidade de permanecerem em oração, e aguardando em Jerusalém o batismo do Espírito Santo, para que fossem revestidos de poder, pois quem dá e sustenta o testemunho de Cristo em nós é o poder do Espírito Santo. Por este motivo vemos o apóstolo Paulo dirigindo a Timóteo as seguintes palavras, para o cumprimento adequado do seu ministério:
76
“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus.” (2 Tim 2.1) E a todos os cristãos: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.” (Ef 6.10) Vemos assim a nossa necessidade vital de estarmos permanentemente fortalecidos na graça de Jesus, mediante o poder do Espírito Santo que em nós opera. Muitos pensam erroneamente que quando se fala em batismo do Espírito Santo, revestimento de poder do Espírito, ou enchimento do Espírito, que isto signifique simplesmente receber um poder sobrenatural que operará em nossas vidas independentemente das condições morais e espirituais em que nos encontremos. Todavia, se examinarmos com mais cuidado não somente o texto bíblico, mas a nossa própria experiência prática em relação a este assunto, verificaremos que é muito mais do que isto o significado do poder da graça e do Espírito Santo atuando em nossas vidas. Antes de tudo, devemos lembrar que este poder nos é dado para sermos cheios do fruto do Espírito Santo, que tem a ver com as nossas atitudes, com o nosso comportamento, com a
77
transformação progressiva do nosso caráter e coração. É um poder para nos habilitar a sermos obedientes aos mandamentos de Deus, para aprendermos a ser mansos e humildes de coração, a sustentarmos um bom testemunho de comportamento em nossa vida cristã, de modo a nos tornarmos exemplo para ser seguido por outros. Trata-se de ser cônjuges exemplares, filhos exemplares, servos exemplares, líderes exemplares, cidadãos exemplares, enfim, sermos achados em todas as áreas de relações humanas como homens e mulheres de Deus, que trazem estampada em suas vidas a imagem de Jesus Cristo, conforme veremos no estudo do oitavo capítulo de Romanos, no qual se afirma que fomos predestinados por Deus para tal propósito. E nada disto poderá existir sem que haja uma transformação do nosso coração. E por isso necessitamos crucialmente deste poder do alto, porque como o próprio Senhor Jesus afirmou, sem Ele nada podemos fazer, notadamente no que tange às coisas que são celestiais, espirituais e divinas. Em cumprimento à promessa que nos fez em relação à Nova Aliança (Jeremias 31.31-35) Deus já nos deu um coração de carne em substituição
78
ao coração insensível de pedra às coisas concernentes ao reino dos céus que tínhamos antes da nossa conversão a Cristo. Tendo falado sobre a necessidade de santificação no sexto capítulo, Paulo apresentaria agora algumas razões que explicam a necessidade desta santificação. A primeira delas é que ao termos sido justificados, nós entramos automaticamente numa relação de caráter matrimonial com Cristo. Na verdade, não é apenas cada cristão individualmente que tem a Cristo por Seu noivo, mas toda a Igreja. Os judeus que estavam presos aos termos da Antiga Aliança por dever de obediência para com Deus, seriam tidos como adúlteros e infiéis se abandonassem aquela aliança que lhes foi determinada pelo Senhor para ser guardada por eles. Mas, estando em Cristo, já não estão mais debaixo do compromisso da Antiga Aliança, porque ela não somente foi revogada pela morte de Cristo, para que os que são justificados pela fé nEle, pudessem abandonar o primeiro pacto, a primeira aliança, o primeiro compromisso, para poderem assumir um segundo, de caráter muito diferente do primeiro.
79
Em Cristo eles estariam mortos para a exigência de fidelidade àquela Primeira Aliança, de maneira a poderem contrair núpcias com Ele nos termos de uma Nova Aliança, instituída no Seu sangue. Paulo queria falar de morte para a Lei não no sentido de estarmos desobrigados da Lei moral, pelo fato de sermos cristãos, mas pela mudança de alianças, porque logo no primeiro versículo deste capítulo ele deixou claro que estava falando estas coisas àqueles que conheciam a lei. Então, para se fazer melhor entendido no que estava dizendo ele se valeu de uma ilustração, dizendo que se dá em relação a esta nova contração de núpcias com Cristo, para os que estavam debaixo do regime da lei do Velho Testamento, o mesmo que se dá com o casamento de um homem com uma mulher, pois que morrendo uma das partes, a outra fica livre para contrair novas núpcias. Então, em Cristo, o cristão morreu para a condenação da Lei, que diz, que está debaixo de maldição todos os que transgredissem a quaisquer dos seus mandamentos. Já não vale mais, portanto, esta regra para um cristão que tenha sido justificado e se unido a Cristo pela fé, porque ele já não pode mais ser considerado maldito pela lei, caso venha a pecar
80
eventualmente, porque não está mais casado com a lei, mas com Cristo. Assim a Lei não pode pretextar que esteja havendo infidelidade para com ela, porque estamos casados com um outro, porque morremos para ela e para a sua condenação, ao termos sido crucificados juntamente com Cristo. O casamento com a Lei não nos ajudou em nada quanto à nossa salvação, porque em vez de nos ajudar ela nos condenava, e nos acusava, ainda que justamente, por causa dos nossos pecados, que consistiam na transgressão das suas ordenanças. E o resultado destas transgressões era a morte. Mas em Cristo nenhum judeu estava mais obrigado a cumprir os mandamentos civis e cerimoniais da Lei, porque foram revogados pelo Senhor. Além disso, o modo de se agradar a Deus não incluiria mais a necessidade de se guardar também todos os mandamentos da Lei cerimonial de Moisés, porque a dispensação da graça não é um serviço a Deus segundo a letra dos mandamentos do Velho Testamento, mas em novidade de espírito, segundo a justiça do evangelho, não mais no regime da Lei, mas no regime do Espírito, conforme Paulo o detalhou no terceiro capítulo de II aos Coríntios.
81
Pelo verso 7, nós vemos que Paulo não estava se referindo apenas à lei cerimonial, mas também à lei moral, mostrando que o nosso casamento, mesmo com esta lei, não poderia nos capacitar a viver de modo agradável a Deus e muito menos nos justificar do pecado, e até mesmo nos santificar. A lei não é pecado. Ao contrário, é santa, justa, perfeita, espiritual e boa. Mas nós somos pecadores que transgridem naturalmente a lei, caso não sejamos capacitados pelo próprio poder de Deus operando em nós pela graça para que possamos viver de tal modo, que sejamos irrepreensíveis diante de todas as exigências da Lei. Por isso, apesar de a lei nos ajudar a compreender que somos pecadores, a força do pecado nos torna completamente incapacitados para atender por nós mesmos às suas santas exigências. A lei sozinha em vez de vencer o pecado, serve ao contrário para colocá-lo ainda mais em realce; porque comprova que somos de fato pecadores, porque transgredimos os mandamentos da lei de Deus, caso não sejamos habilitados pelo Espírito Santo a vencer a fonte do pecado que opera na carne. No entanto, ao sermos salvos por Cristo, passamos a entender que a Lei é espiritual, boa
82
e santa, e passamos a dar o devido valor à Lei, apreciando os mandamentos de Deus; entendendo que nos foram dados para serem amados e cumpridos. No entanto, tal é a força do pecado que ele usa o próprio mandamento para nos enganar e matar, como Paulo afirma no verso 11. Queremos fazer a vontade de Deus. Não queremos fazer aquilo que a Lei condena, antes queremos fazer o que ela aprova, mas sem a força da graça operando em nós, o pecado há de se revelar mais forte do que a nossa própria vontade, e acabamos derrotados. Sabendo que não é possível a aniquilação definitiva de qualquer tipo de pecado enquanto vivermos neste mundo, será sábio estarmos sempre prevenidos contra eles, porque a condição citada em Rom 7.22,23 é uma condição permanente enquanto estivermos neste corpo: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.”. Mas também é verdade que este prazer interior que temos agora na lei de Deus vem da habitação do Espírito Santo, como lemos em Tg 4.5:
83
“Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?”. E em Rom 7.18,19: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.”. E nisto não há qualquer paradoxo, mas a confirmação de que o pecado necessita de fato ser vencido, mortificado, para que se possa cumprir as ordenanças do Senhor. É possível praticar o bem, é possível viver em santidade, é possível ter comunhão com Deus, ainda que estejamos sujeitos à ação do pecado. Enquanto no corpo estamos sujeitos ao pecado, por maior que seja a nossa consagração, e dizemos isto não para justificar um viver segundo a carne, mas exatamente para se viver de modo santo, sabendo nós de antemão, que enquanto neste mundo, isto nunca significará uma aniquilação total e permanente do pecado, e que por isso devemos ser diligentes quanto ao assunto da sua mortificação. Esta é a razão principal porque o Espírito Santo e a nova natureza são doados pela graça a nós, para que tenhamos um princípio interior por
84
meio do qual possamos nos opor ao pecado e à cobiça que conduz ao pecado. Devemos saber que há uma permanente luta do Espírito Santo contra a carne, e da carne contra o Espírito, apesar de a carne ficar cada vez mais fraca, e a graça cada vez mais forte em nós, à medida que progredimos na nossa santificação. Há uma tendência no Espírito, na nova natureza espiritual, para estar agindo contra a carne, como também na carne para estar agindo contra o Espírito Santo. Como vemos em II Pe 1.4, 5 é nossa participação da natureza divina que nos dá uma fuga das corrupções que estão no mundo pela cobiça; e, vemos em Rom 7.23 tanto uma lei da mente, quanto uma lei dos membros do corpo. Esta competição é pelas nossas vidas e almas. Não estar empregando o Espírito Santo e a nova natureza diariamente para mortificar o pecado, é negligenciar aquele socorro excelente que Deus nos tem dado contra nosso maior inimigo. Se nós negligenciarmos fazer uso do que nós recebemos, Deus pode reter a Sua mão privando-nos de nos dar mais.
85
As Suas graças, como também os seus dons nos são dados para serem usados e exercitados, e não para serem, enterrados ou jogados fora. Não estar mortificando o pecado diariamente, é pecar contra a bondade, sabedoria, graça, e amor de Deus, que os tem fornecido a nós para tal propósito. No dizer de Rom 7.24 nós temos um corpo de morte. Porque está sujeito continuamente à morte espiritual que é operada pelo pecado. Este corpo só será livrado desta humilhação quando nós formos transformados no arrebatamento da igreja, quando receberemos um corpo glorificado que não está sujeito ao pecado. Como lemos em Fp 3.21: “que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.”. Então não há outra forma de ser livrado da ação do pecado senão pela sua morte. Por isso é nosso trabalho enquanto estivermos neste corpo, o de estar matando continuamente o pecado.
86
Este é o trabalho de se matar um terrível inimigo que vive dentro de nós, com um golpe após outro, de modo que não o deixemos viver. A relação entre a vontade que reside na mente, e a lei do pecado ou a lei do Espírito Santo, que operam no homem todo, a saber, no corpo, alma e espírito, são realidades que transcendem a própria vontade do homem, e por conseguinte de todas as faculdades da sua mente. Paulo se referiu a isto em Romanos 7:15 a 25. O cristão, de si mesmo, com a sua mente deseja servir à lei de Deus, mas isto não é tudo quanto ele necessita para poder servir de modo aprovado a Deus, pois precisa também que a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus o capacite a fazer o que deseja, e a não fazer o que não deve e não deseja fazer, porque somente esta lei espiritual pode vencer a lei do pecado que opera na carne, e que é mais forte do que a própria vontade humana. Por isso nossa mente deve ser renovada e sujeitada à Palavra de Deus. E ainda que a vontade resista, nós devemos treinar a mente neste exercício de tal maneira, que a mantenhamos nos ajudando a meditar na Palavra, a orar, e a nos concentrarmos na busca do Senhor, até que Ele se manifeste a nós e fortaleça o nosso espírito.
87
Paulo diz no verso 16 que ao fazer o que ele não queria, ele consentia com a lei que é boa, a saber, a sua vontade era a de não pecar, mas o pecado que habita na carne o levava a praticar o mal, e nisto a lei comprovava que ela é boa, porque testifica ao homem que ele é pecador por natureza, porque apesar da sua vontade ser a de fazer somente o que é aprovado por Deus, o pecado pode operar com um poder superior à sua própria vontade, ensinando-lhe que não será ali, isto é, na sede da vontade, que a batalha será vencida pela graça, mas no seu coração. Assim, o cristão se esforça e escolhe ter uma vida de devoção e virtude porque Deus lhe deu um novo coração, uma nova natureza. Mas se não andar no Espírito quem prevalecerá sobre o coração do cristão será a carne, ativando ali toda sorte de cobiças e pensamentos que o levarão a produzir as obras da carne. Paulo se refere em Rom 7.17 que já que o pecado é superior à sua própria vontade então já não é mais ele, ou seja, voluntariamente, que está buscando o mal, uma vez que a sua vontade deseja tão somente fazer o que é agradável a Deus, mas é a força do pecado que nele habita, em sua natureza, que o conduz à pratica do mal que não deseja, e a não praticar o bem que ele quer.
88
Vitórias eventuais sobre determinados desejos não garantirão uma vitória plena e permanente sobre todos eles. Não que Paulo vivesse pecando, mas ele quis nos ensinar que há somente um modo de se vencer o pecado, e isto é pelo poder do Espírito Santo, mediante a fé em Cristo. É se sujeitando efetivamente a Cristo, que o pecado é vencido. Assim, temos visto que o pecado não pode ser vencido pelo simples exercício da vontade. Não há na natureza terrena qualquer poder para combater o pecado, e ainda que desejemos fazer o bem, buscando ter um uso correto da nossa vontade, não temos em nós mesmos o poder de efetuá-lo em perfeição. Por isso somos convocados a orar e a vigiar incessantemente para podermos vencer a carne (o princípio do pecado que opera em nossa natureza) que é fraca. De maneira que neste caso, querer não significa de nenhum modo, poder. E mais uma vez o apóstolo vai afirmar nos versos 19 e 20 que é a lei do pecado que opera na nossa carne que nos leva a praticar o mal, embora todo o desejo de nossa vontade seja o de não praticá-
89
lo, a ponto de dizermos que não somos nós, isto é, o nosso homem consciente que o está praticando, mas o pecado que habita em nós. Mais uma vez lembramos que ao falar em bem e em mal, o apóstolo não está se referindo especificamente a atos morais, mas à presença ou falta de santificação no poder do Espírito Santo, em nossas vidas – à falta de poder para conhecer e obedecer à vontade de Deus. Somente o poder da graça de Deus pode vencer a força do pecado. Deste modo, Paulo vai explicar melhor no capítulo seguinte como é que o Espírito Santo vence a natureza terrena decaída no pecado, e qual é o dever dos cristãos de se consagrarem inteiramente a Ele, para que possa realizar o Seu trabalho de mortificação do pecado. E quanto os cristãos dependem inteiramente de seguirem o pendor do Espírito Santo, inclusive contando com Ele em suas intercessões, para que possam sair vencedores na luta que têm que travar contra a velha natureza, o diabo e o fascínio do mundo.
90
IX – A união indissolúvel do crente com Cristo (Romanos 8) A temática central deste capítulo está relacionada ao vínculo indestrutível que há entre Cristo e o crente, porque este é parte de Sua vida, alguém que é membro de um corpo que está ligado à Cabeça; um ramo na Videira verdadeira; uma pedra viva do edifício espiritual do qual Jesus é o Fundamento e Pedra de Esquina; uma esposa unida ao seu Esposo. A razão desta união é que em Cristo o crente não é mais um ser exclusivamente natural, um ser carnal, senão alguém que recebeu a vida sobrenatural do céu, alguém que é agora espiritual, capaz de responder ao propósito de Deus de ser adorado em espírito e em verdade, porque Deus é espírito perfeito e santo. O início deste oitavo capítulo apresenta a continuação do argumento de Paulo no final do capítulo sétimo, anterior a este. Ele havia dito no fechamento daquele capítulo o seguinte: "Rom 7:14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.
91
Rom 7:15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Rom 7:16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Rom 7:17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Rom 7:18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Rom 7:19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Rom 7:20 Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Rom 7:21 Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Rom 7:22 Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Rom 7:23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
92
Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado." Então ele prosseguiu dizendo logo a seguir no início do oitavo capítulo: "1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. 2 Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte." Esta condição da libertação encontrada pelo crente em Jesus, em relação à condenação, ao pecado e à morte, é afirmada pelo apóstolo como uma verdade absoluta e final na vida de todos aqueles que foram justificados pela fé e que, por conseguinte, foram regenerados pelo Espírito Santo, ou seja, tornados novas criaturas. Não é particularmente Paulo que vê o crente nesta condição, mas o próprio Deus que revelou a ele esta condição firme e segura na qual todo cristão autêntico se encontra em sua união vital com Jesus Cristo.
93
Muitos indagam, entretanto, por que teria então o apóstolo citado a condição de desventura citada por ele na parte final do sétimo capítulo? Não podemos esquecer que a condição ali apontada por ele não se refere a qualquer tipo de instabilidade no edifício espiritual que está sendo erigido com os cristãos como sendo pedras vivas sobre o alicerce que é Jesus Cristo. Até mesmo o conflito interior da luta contra o pecado não pode mais separar o crente do Senhor que o resgatou e o tornou participante da Sua própria vida. Nós vimos o apóstolo afirmando esta firmeza do crente em Jesus ao longo de toda esta epístola, e a título de recordação, leiamos mais uma vez as suas palavras em Rom 6.17-22, onde ele reafirma esta plena condição de liberdade alcançada pelo crente por meio da simples fé em Jesus. "Rom 6:17 Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; Rom 6:18 e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Rom 6:19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a
94
maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Rom 6:20 Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Rom 6:21 Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte. Rom 6:22 Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna;" Não há qualquer sombra de dúvida no apóstolo e muito menos nos Senhor Jesus, quanto ao fato de que os crentes já não são mais escravos do pecado, e nem de Satanás, porque Jesus os livrou perfeita e completamente. Mas alguém indagará: "Por que então se vê tanto mau testemunho mesmo nas vidas de crentes autênticos - pessoas que foram justificadas e regeneradas pelo Espírito?" Isto decorre não por que perderam a filiação a Deus, ou que deixaram de ter o Espírito, ou ainda que voltaram à sua velha condição anterior de pessoas inteiramente carnais, deixando de ser novas criaturas em Cristo.
95
O que sucede é que deixaram de andar do modo digno da sua vocação, abandonaram a comunhão com o Senhor, negligenciaram os deveres espirituais da vigilância, da oração e da meditação da Palavra e do empenho na obra de Deus. Voltaram a ser, caso nunca tenham deixado de ser, pavios fumegantes e canas rachadas, mas mesmo assim não serão lançados fora pelo Seu Senhor, que há de completar a boa obra neles, ainda que seja no céu. Ele os corrigirá, disciplinará, mas não os rejeitará. Afinal, não foram escolhidos por Deus por algum mérito que houvesse neles, ou algo que Lhe agradasse, mas simplesmente o Senhor lhes escolheu porque lhes amou primeiro antes mesmo da fundação do mundo. Todavia, uma vez tendo sido feitos filhos de Deus não poderão agradá-Lo caso não vivam do modo digno da sua eleição, que foi para a santificação no Espírito (I Pedro 1.2). O justo (aquele que foi justificado) recebeu a vida de Jesus pela fé, e agora importa que continue caminhando por fé e não por vista. Deve se despojar das obras da carne, uma vez que o velho homem recebeu a sentença de
96
morte na cruz do Calvário, quando morreu juntamente com Cristo. Uma pessoa que foi libertada não deve viver mais como um escravo do seu antigo senhor, a saber, do pecado e do diabo. Quando Jesus disse que somente Ele poderia nos libertar dessa escravidão, ele enfatizou com um "verdadeiramente" - "verdadeiramente sereis livres", ou seja, uma liberdade efetiva, real, consumada, para um casamento com Cristo que é de caráter indissolúvel, e que nem mesmo a morte pode separar. Nosso Senhor também afirmou em João 3.6: "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito." E foi daqui que o apóstolo Paulo retirou o seu ensino que encontramos neste oitavo capítulo de Romanos quando afirma que aos olhos de Deus os crentes são vistos como espirituais, e não mais como carnais, ou seja, eles nasceram da carne, de seus pais, mas em Cristo, nasceram do Espírito, e são espírito vivificado, pronto a responder à demanda de Deus em ser adorado em espírito e em verdade. Todavia, não podem manifestar esta vida separados da comunhão com Jesus. É nEle, que todo o propósito de Deus é cumprido, de modo que sem Ele, nada podemos fazer.
97
Tudo isto está declarado pelo apóstolo em Rom 8.4-17. Releia este texto abaixo, e note como ele se refere ao fato inconteste de que o crente não anda segundo a carne, como aqueles que não foram justificados (v.4), e estes últimos caminham sem Deus no mundo porque podem somente se inclinar para as coisas da carne, e não para as que são do Espírito (v.5) - e o resultado desta inclinação que o ímpio tem para carne é inimizade contra Deus e morte espiritual, mas a que o crente tem no Espírito é para a vida eterna e para a paz, reconciliação com Deus (v.6). Deus criou o homem para ser espiritual e não carnal - leia Gên 6.3. Mas é somente em Cristo que alguém pode se tornar espiritual, e como todos os crentes estão em Cristo, e todos são de Cristo e têm a habitação do Espírito Santo, eles têm o seu espírito vivificado porque foram justificados com a justiça de Jesus (v. 7-11). Como toda a nossa vida espiritual tanto em crescimento e manifestação depende inteiramente do nosso caminhar no Espírito, é evidente que quando fazemos concessão ao pecado e andamos segundo o mundo, não há de se ver um espírito cheio da vida abundante de Jesus, senão um espírito que, ainda que tenha sido vivificado no dia da conversão, encontra-se agora como morto, insensível e incapacitado para manifestar a vida que é do céu, condição esta, entretanto, que pode ser revertida pela
98
confissão e pelo arrependimento, ainda que repetidamente. Mas ainda que isto seja verdadeiro, nem sequer é a isto que Paulo se refere em primeira mão no verso 13, no qual afirma que se vivermos segundo a carne, morreremos, mas se pelo Espírito, mortificarmos as obras do corpo, viveremos. Ora, o argumento segue também aqui neste ponto tudo o que ele disse anteriormente e que continuará afirmando, até culminar com o brado de triunfo e louvor do final deste capítulo quando diz que nada mais poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, e o motivo disto é porque fomos justificados e unidos a Ele para sempre, como membros do Seu corpo, sendo participantes da Sua própria vida. Então estes que tiveram o seu velho homem crucificado, e que pelo Espírito tiveram os feitos do corpo mortificados na regeneração, são indubitavelmente todos aqueles que creram em Jesus e que pela fé nEle se tornaram filhos de Deus. De modo que logo a seguir, a partir do verso 14 até o 17, o apóstolo confirma o que acabamos de expor. "4 Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
99
5 Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. 6 Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. 7 Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. 8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. 9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. 10 E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. 11 E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. 12 De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne.
100
13 Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. 14 Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. 15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. 16 O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. 17 E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados." Até mesmo a citação dos versículos 18 a 28, que pode parecer à primeira vista estar fora do contexto dos argumentos que Paulo apresentou anteriormente, na verdade é uma confirmação de tudo o que havia dito, porque nem mesmo as aflições presentes, nem o gemido da criação existem como uma forma de oposição ao plano de Deus de ter muitos filhos semelhantes a Cristo. Tudo o que há de tribulação e aflição no mundo coopera para a consumação deste Seu propósito eterno, porque é justamente por estas provações que somos aperfeiçoados para sermos feitos à imagem e semelhança de Jesus.
101
E para suportar e vencer estas provações temos a ajuda do Espírito Santo que nos fortalece para mantermos uma vida de vigilância e oração, de modo que possamos viver de modo agradável a Deus crescendo na graça e no conhecimento de Jesus. Daí Paulo ter dito: "28 E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." Paulo chamou os crentes de Corinto de carnais, porque eram bebês em Cristo que não se desenvolviam em seu crescimento espiritual. Não devemos, portanto, entender essa forma dele se expressar naquela epístola como algum tipo de indicação que eles não eram de Cristo, ou que não tinham o Espírito. Eles foram assim chamados porque estavam andando de modo desordenado, mas daquele mal foram curados pelo mesmo remédio que nós também somos, porque se arrependeram e retomaram a caminhada da vida cristã do modo pelo qual deve ser retomada, a saber, por um andar no Espírito, em comunhão com Cristo, observando e guardando os Seus mandamentos, por meio da fé e graça que Ele concede àqueles que se aproximam dEle com um coração sincero.
102
Assim, ao chamar, em certa ocasião, os crentes coríntios de carnais, o que Paulo queria dizer era que eles estavam no Espírito, mas viviam como os que vivem exclusivamente na carne, a saber, aqueles que não conhecem a Jesus. E como sucedeu a eles, ocorre com muitos na Igreja, em razão da luta constante entre o Espírito e a carne, pois há em todo crente duas naturezas, uma terrena e outra celestial, uma velha e outra nova, uma carnal e outra espiritual, daí a existência do conflito. Então, para o propósito de aperfeiçoamento dos santos Deus concedeu dons e ministérios pelo Espírito Santo, à Igreja, como se vê em I Cor 12, 14 e Ef 4. Se o cristão permanecer vivendo de modo carnal Ele não poderá manifestar a vida e paz do Espírito Santo, a qual só pode ser conhecida e experimentada, caso se ande no Espírito. Entretanto, por ter a habitação do Espírito ele já alcançou a condição de vida e paz, e foi livrado para sempre da condenação de morte que pairava sobre ele antes da sua conversão. John Owen escreveu um tratado intitulado A Graça e o Dever de Ser Espiritual. O título é muito apropriado porque esta condição de ser espiritual é recebida exclusivamente pela graça e será mantida para sempre, todavia a sua
103
manifestação na nossa viva cotidiana é dependente da nossa obediência ao Senhor e aos Seus mandamentos, por se viver na fé e andando no Espírito. Foi para isto mesmo que fomos predestinados por Deus. De modo que nos chamou, pelo Espírito Santo, para nos convertermos e sermos adotados como Seus filhos, por meio da justificação, com vistas à nossa glorificação futura. Deus não poupou ao seu próprio Filho para que Ele morresse por nós. Então como haveria nEle alguma possível intenção de vir a anular tudo o que nos tem prometido dar juntamente com Cristo, por causa da nossa união com Ele? Como dissemos anteriormente fomos feitos co-herdeiros com Ele e isto significa que tudo o que é de Cristo é também nosso por direito concedido, prometido e jurado pelo Pai. Então quem poderá ser contra o cristão de maneira a impedir que se cumpra nele o propósito de Deus? Por que então deveria o cristão viver de modo diferente deste propósito glorioso que lhe foi concedido pela graça do Senhor? Ele não deve dar ouvido à carne, voltaria Paulo a dizer no desenvolvimento destes argumentos verdadeiros que está apresentando desde o
104
verso 30; mas seguir sempre a direção e instrução do Espírito Santo. Ainda que esteja num corpo carnal que enferma e morrerá, contudo vive pelo espírito e no Espírito. Paulo começou este oitavo capítulo dizendo que já não há nenhuma condenação para os que são de Jesus, e que andam segundo o Espírito Santo, e agora ele afirmou nos versos 33 e 34, que por causa desta justificação pela graça, mediante a fé, ninguém pode sustentar qualquer tipo de acusação contra os escolhidos de Deus que prevaleça no juízo vindouro contra eles, porque foram justificados. Já não há de fato nenhuma condenação eterna para os cristãos, e nem o próprio Deus os condenará, porque Cristo carregou sobre Si os pecados daqueles aos quais justificou. E é Ele mesmo que intercede pelos santos à direita de Deus, para que continue operando eficazmente naqueles que foram transformados em Seus filhos, para que sejam santificados. É por causa desta intercessão de Cristo que o cristão persevera, porque se fosse deixado entregue a si mesmo, não poderia prosseguir adiante por causa do pecado que ainda opera na carne.
105
De maneira que necessita do Espírito Santo e da intercessão de Cristo para que o pecado seja vencido, e seja capacitado com poder, para viver segundo o homem interior, no espírito, e não segundo a carne. O nosso Grande Sumo Sacerdote, nosso Senhor Jesus Cristo, intercede por nós dia e noite e tem cumprido a promessa de estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos, e é esta a razão de não desfalecermos no meio da nossa jornada rumo à nossa pátria celestial. De tal ordem é a força deste poder operante da graça de Jesus no cristão que nada poderá separá-lo do Seu amor. Nenhuma tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada poderão consegui-lo, porque o caráter desta união é indissolúvel; porque é de caráter matrimonial. A fé vence o mundo, e todas as coisas que se levantam contra o conhecimento de Deus, em Cristo. A fé que salvou o cristão é um dom de Deus, e sendo assim é algo indestrutível. Ela não pode ser vencida por nenhuma tribulação, seja interna ou externa. Nada do que sentimos ou sofremos poderá nos separar de Cristo se pertencemos de fato a Ele, por termos sido, justificados e regenerados.
106
Deus trabalhará em nós através de todas estas coisas que no presente nos parecem adversas, mas que no fundo estão contribuindo para o nosso bem, de maneira que sejamos aperfeiçoados em santificação e amor; o que nos fará experimentar graus cada vez maiores da plenitude que há em Cristo. É, portanto, por meio de todas estas coisas que os cristãos são mais do que vencedores por meio do amor de Jesus.
107
X – A causa da justificação, da
eleição e da filiação (Romanos 9) Tendo encerrado o oitavo capítulo de Romanos reafirmando a firmeza e a segurança eterna da salvação que os crentes autênticos têm em Jesus, fundamentadas nos dons da justificação e da regeneração, que são irrevogáveis porque estão baseados na chamada, ou seja, na vocação eletiva de Deus, cuja natureza também é irrevogável, o apóstolo Paulo lamenta a condição da nação de Israel, por seu endurecimento à recepção do evangelho, sabendo que isto duraria conforme profetizado pelo profeta Isaías, até a segunda vinda do Senhor. A nação como um todo se encontraria endurecida, mas Deus sempre teria um remanescente fiel entre o povo que creria no evangelho e que, portanto, alcançaria a salvação. O desejo de Paulo em relação a eles era o de que toda a descendência natural de Abraão, chamada através de Isaque e Jacó, fosse salva, mas ele estava bem instruído pelo Senhor que aos Seus olhos, nem todo israelita natural é um verdadeiro israelita espiritual, por não possuir a
108
mesma fé salvadora que havia justificado Abraão. E a causa imediata disto era a eleição divina, sobre a qual Paulo discorre neste nono capítulo. Os gentios estavam sendo alcançados pelo evangelho, enquanto os próprios judeus, pertencentes à nação eleita, estavam cada vez mais endurecidos em relação a Cristo. Qual a razão disso? Algum mérito especial dos gentios? Algum a predileção da parte de Deus por eles? Não. Afirma o apóstolo, e este explica de modo consistente, que tudo se deve ao exercício exclusivo da misericórdia e soberania de Deus em nos salvar. Com estes argumentos verdadeiros relativos à Soberania de Deus, ele esperava colocar um ponto final nas expectativas de salvação por meio de mérito ou de obras, uma vez que a justificação é antecedida por uma chamada divina que está fundada na eleição. Então, o apóstolo falará sobre o caráter desta eleição. Ele começou com o exemplo do próprio povo de Israel, que tendo à disposição deles a adoção de filhos, a glória, as alianças, a lei, o culto e as promessas, os patriarcas aos quais foram feitas
109
as promessas, e a quem foi dado até mesmo o próprio Cristo, segundo a carne, porque era da descendência da tribo de Judá, no entanto, não alcançaram a salvação em sua grande maioria. E a razão disto é que o homem é totalmente dependente de Deus para que seja salvo por Ele, e isto está atrelado à Sua escolha e iniciativa divina na salvação, e não propriamente ao nosso próprio querer e esforços, pois a salvação demanda o recebimento de uma nova natureza espiritual, celestial e divina, e grande parte da humanidade não está disposta a isto. A maioria das pessoas aspira a ir para o céu depois da morte, mas não para o céu que exige uma vida santificada aqui na Terra. Assim, quem desejar entrar no Reino de Deus com este tipo de desejo, certamente não será achado lá, conforme testificam as Escrituras. É evidente que temos que buscar, desejar a salvação, mas ela não nos virá pelo nosso mero querer. Devemos bater à porta do céu, devemos procurá-la no Senhor Jesus, e pedir a Ele, humildemente, que nos salve, se não somos convertidos a Ele, mas não se encontra em nós o poder para gerarmos a fé que salva (é dom de Deus), ou a nossa justificação, regeneração e santificação, e assim, permanece sob a soberania de Deus não somente conceder como também operar tudo o que se refira à salvação.
110
Importava que fosse assim, conforme determinado em Seus conselhos eternos, para que sendo por fé e por graça, fique também excluída não somente a jactância humana, como também a exploração do homem pelo homem, sob os argumentos de que é uma determinada instituição mediadora entre os homens e Deus que nos salva, ou as obras e serviços que fizermos sob a direção de determinadas instituições religiosas ou pessoas que se intitulam a si mesmas mestres, guias, gurus etc, ou por quaisquer outros meios adicionados ou que eliminem o mandado de Deus de nos salvar somente por graça e mediante a fé. De modo que o plano de Deus é segurança para nós, e visa ao nosso próprio benefício, de modo que não dependamos do mérito e dos meios de nenhuma instituição ou homem sobre a Terra, e nem mesmo no céu, aparte ou além de Cristo, para a salvação da nossa alma. Todos os que elaborarem o seu próprio caminho para a verdade e a vida eterna, serão achados fora do caminho estreito, da única verdade e vida eterna que é o próprio Cristo. Dependemos assim que Ele se manifeste a nós, por misericórdia e com graça, para nos perdoar de todos os nossos pecados, e isto Ele certamente fará se o buscarmos com verdadeiro arrependimento.
111
Ele tem prometido não lançar fora a qualquer que o buscar. Apesar do dever que temos em saber que é Ele que nos escolheu e amou primeiro, do que nós a Ele. Deus, em Sua presciência e onisciência, que faz com que Ele tudo saiba e conheça, antes mesmo de chegar à existência, sabe quais são estes que resistirão para sempre à Sua vontade e amor, de forma que não os elege para a salvação que eles desprezarão e rejeitarão. E isto é feito de maneira que apesar de o convite do evangelho ser geral a todas as pessoas, em todos os lugares e épocas, sem qualquer tipo de acepção, todavia a chamada eficaz que regenera o nosso coração é feita pelo Espírito Santo de modo eletivo, ou seja, somente àqueles que Ele conhece que serão receptivos ao evangelho, ainda que resistam até mesmo por muito tempo a se renderem a Cristo. O trabalho de convencimento do pecado e da necessidade de arrependimento e do Salvador será paciente e trabalhará nas circunstâncias da vida, sem que seja dado ao homem saber quem ou não será salvo, porque isto é do conhecimento exclusivo de Deus (I Cor 7.16), que diferentemente de nós é Onisciente, Onipotente e Onipresente. O motivo da não eleição não é moral, porque todos os eleitos são tão pecadores quanto os demais, mas é devido a esta rejeição e este
112
desprezo da graça do evangelho que Deus está oferecendo em Jesus Cristo. Em suma, os eleitos são os que virão a amar a Deus, a viver para Deus, e desejarem mais do que tudo fazer a Sua santa vontade. Por isso, o apóstolo ilustra a eleição com os gêmeos Esaú e Jacó, dizendo que Deus, já havia dito à mãe de ambos, antes mesmo de os meninos nascerem, que havia amado a Jacó e se aborrecido de Esaú, porque sabia que Esaú jamais O amaria. Mas Deus conheceu também a Jacó por meio da Sua presciência, e sabia que ele viveria para fazer a Sua vontade, pois se deixaria penetrar pela Sua graça e influência, e ensinaria aos seus filhos a andarem nos Seus caminhos. Então não foi por causa de nenhum mérito que Jacó tivesse antes de nascer que ele foi eleito, ou mesmo por obras que viria a praticar depois de gerado, porque Deus o conhecera antes mesmo de tê-lo formado no ventre de Rebeca. O caso de faraó exemplifica claramente que Deus não está obrigado a usar de misericórdia para com todos os homens, porque Ele conhece muito bem o caráter de corrupção da nossa natureza terrena, do quanto somos inimigos e avessos naturalmente aos Seus mandamentos,
113
especialmente os relativos à plena santificação do nosso coração. Até mesmo os eleitos são achados nesta triste condição espiritual, antes da sua chamada, justificação e regeneração, e por isso necessitam de uma eleição que seja segundo a graça e misericórdia divina, porque de outro modo jamais poderiam vir a agradá-Lo. Assim, a misericórdia para a salvação será manifestada por Deus àqueles que Ele conheceu antes mesmo de serem formados nos ventres de suas mães, e que se dobrarão a Ele quando chamados eficazmente pelo Espírito Santo, que não blasfemarão contra Ele e contra os céus, que não odiarão a Jesus, ao evangelho e à Sua Igreja, e que se converterão dos seus maus caminhos. Mas, a maioria da humanidade, ao longo dos séculos, tem se desviado desta bondade e misericórdia que Deus está oferecendo a todas as pessoas e em todos os lugares, para que sejam salvas por meio da Justiça de Cristo. Deus tem todavia suportado com grande longanimidade aqueles que são como vasos de ira, porque se enchem cada vez mais da ira da justiça divina contra os pecados que praticam, e com a qual serão visitados por fim no Dia do grande juízo final.
114
O Senhor lhes tem permitido, em sua grande maioria, viverem muitos anos sobre a face da Terra, sem lhes visitar com Seus juízos por causa de suas más obras, e não lhes imputando enquanto aqui vivem, as suas ofensas à Sua Justiça e Santidade, mostrando-lhes que são indesculpáveis em face do longo tempo que lhes foi concedido para que se arrependessem dos seus pecados, e no entanto, têm escolhido não fazê-lo. Mas dos eleitos se diz que são vasos de misericórdia porque será manifestada em suas vidas a misericórdia de Deus, salvando-lhes de seus pecados e da condenação, porque se arrependeram de seus pecados e confiaram em Jesus Cristo para ser o Salvador e Senhor deles.
115
XI – O modo de proclamação e
recepção do evangelho
(Romanos 10)
Tendo falado nos capítulos anteriores sobre o significado propriamente dito do evangelho, Paulo vai falar agora neste capítulo sobre o modo de crer no evangelho e de pregá-lo. Isto deve ser feito de forma positiva, a saber, expondo no poder do Espírito Santo os fatos relativos à obra de Cristo, porque são realidades que se cumpriram para que agora creiamos nelas, e para que por meio delas possamos ser salvos por Deus. Sem a pregação da verdade não há nenhuma fé, porque aprouve a Deus salvar os que creem por meio da loucura da pregação. Diz-se loucura, não porque seja algo insensato, mas porque é reputado desta forma pela maioria dos homens, que julgam uma loucura a ideia de o próprio Deus ter encarnado num corpo humano e ter morrido na cruz na pessoa de Seu Filho, carregando sobre Si os nossos pecados, e estar agora ordenando aos homens em todos os lugares que se arrependam de seus pecados e carreguem suas próprias cruzes, para a mortificação do ego carnal, negando-se a si
116
mesmos, para poderem ser verdadeiros discípulos de Jesus. Uma salvação por obras, baseada em méritos humanos, onde as pessoas se considerem capacitadas em si mesmas para a salvação, é rejeitada por Deus, pois aqueles que se julgam indignos a seus próprios olhos, e quão pobres são espiritualmente, e que se arrependem são os que acham favor diante dEle. Deus não escolheu os que são sábios, e elevados segundo o mundo, mas escolheu os que são fracos e desprezíveis para o mundo (I Cor 2). Então, a salvação, o evangelho e suas ordenanças para que o homem se reconheça pecador e que se humilhe diante de Deus, são considerados uma loucura para os que amam o mundo. Multipliquem-se os modos e métodos de evangelização, mas a mensagem do evangelho deve ser sempre a mesma, bem como o grande objetivo final da pregação e ensino do evangelho deve ser sempre o mesmo, a saber, produzir a salvação e edificação de almas na verdade. Foi com este propósito em vista que o apóstolo Paulo escreveu o texto que lemos no décimo capítulo de Romanos.
117
Como é somente pelo anúncio do evangelho que pode ser tornada conhecida a justiça de Cristo que está sendo oferecida gratuitamente aos pecadores, justiça esta que é decorrente exclusivamente da graça, mediante a fé, conforme ele havia discorrido abundantemente sobre ela nos capítulos anteriores de Romanos, então ele se aplica agora em demonstrar que há então necessidade de tornar esta justiça conhecida através da proclamação do evangelho. E a própria fé, por meio da qual somos salvos, é gerada em nós por ouvirmos a mensagem do evangelho – do genuíno evangelho de Cristo, conforme ele foi explicado por Paulo na carta aos Romanos. Crer no evangelho é crer na mensagem que Jesus veio a este mundo para que pudesse destruir o pecado e as obras do diabo em nossas vidas; para vivermos por meio da Sua própria vida, em verdadeira santificação, despojando-nos continuamente do nosso velho homem, que recebeu a sentença de morte quando, aos olhos de Deus, morremos juntamente com Cristo na cruz, para que vivêssemos em novidade de vida espiritual nos revestindo progressivamente das virtudes da pessoa do próprio Cristo, pelo crescimento das graças implantadas na nossa nova natureza recebida na regeneração, uma vez tendo sido justificados para sempre pela fé nEle.
118
O que fica aquém desta mensagem, pode ser tudo, menos o evangelho que Cristo veio anunciar, pois este aponta sobretudo para a necessidade de nos arrependermos do pecado para se obter a vida santificada que existe somente na nossa união com Ele. Esta é a mensagem da qual os cristãos estão encarregados por Deus de anunciar ao mundo inteiro, sem fazer acepção de pessoas, porque o evangelho em si, significa uma boa nova de grande alegria, e tem este caráter porque não se trata de uma justiça que é requerida por Deus de nós por meio dos nossos méritos, esforços isolados e boas obras, para que sejamos salvos, mas uma justiça que está sendo inteiramente oferecida – Cristo, Senhor Justiça Nossa, por meio de quem somos justificados, regenerados e santificados, com vistas à nossa glorificação futura. Até mesmo as nossas boas obras que devem seguir a salvação pela graça mediante a fé, e que são consequência da mesma, devem também ser feitas em Cristo, por Cristo e para Cristo. É impossível conhecer a Cristo quando se tenta agradar a Deus por meio da justiça própria. Os judeus eram zelosos pelo nome do Deus da Bíblia, mas, segundo o apóstolo sem nenhum entendimento da revelação do evangelho, porque os seus olhos estavam fechados, porque
119
não tinham a iluminação do Espírito Santo para entenderem o modo de salvação que é pela graça, e não pelas obras da lei, mediante a própria justiça do homem; e que o evangelho estava destinado ao mundo inteiro e não somente a eles. Israel havia sido eleito como nação para que o evangelho fosse trazido por meio deles para todas as nações da Terra, pois se disse a Abraão, o patriarca deles, que no Seu descendente que é Cristo, seriam abençoadas todas as nações. Assim, Deus não nos salva por causa da nossa condição pessoal ou nacional, ou da nossa própria justiça, mas por causa da justiça de Cristo que nos é imputada por graça e por fé. A lei mesma tem por finalidade principal conduzir os homens à justiça de Jesus, por reconhecerem a impossibilidade de salvarem a si mesmos com a prática de suas obras, porque por melhores que elas sejam, eles continuam sendo servos do pecado. Há de fato uma justiça que é pela lei, para a salvação, a qual somente Jesus pôde atender em Seu ministério terreno, porque cumpriu a lei perfeitamente. Nenhum homem tem tal capacidade e poder, por causa do pecado que habita em sua natureza terrena.
120
Então é um caminho impossível o de alguém tentar ser justificado pela justiça que é pela lei, do mesmo modo como os judeus continuam fazendo até hoje, e não somente eles, como todas as pessoas que estão debaixo de um sistema religioso que ensina, contra o ensino bíblico, as obras como meio de salvação. Por isso Deus salva não pela justiça que é segundo a lei, mas pela justiça que é segundo a fé, isto é, que nos vem por causa da nossa fé em Cristo, de que é Ele quem nos salva, independentemente dos nossos méritos e obras, porque não há quem possa cumprir a lei perfeitamente todos os dias da sua vida, e mudar por seu próprio poder a sua natureza terrena pecaminosa. Assim, a justiça que é pela fé não indaga sobre quem irá para o céu; ou quem descerá ao abismo para que possa ser salvo. Não há tal necessidade ou dúvida, porque Cristo já morreu e subiu ao céu de onde intercede por nós. Ninguém achará salvação também no abismo, isto é, na morte, porque é aqui neste mundo o lugar onde somos salvos. Jesus não subirá dentre os mortos para salvar alguém que desceu à sepultura.
121
O lugar de ser salvo, é aqui, e o momento é na presente dispensação da graça, que é designada como o dia que se chama Hoje, tão logo ouçamos a voz do Espírito em nosso coração, chamando-nos ao arrependimento e conversão. Então não há necessidade de se pensar em buscar salvação no céu ou no abismo, porque a palavra que nos salva está junto de nós, na nossa boca e no nosso coração, quando confessamos a Jesus como Senhor de nossas vidas. O evangelho nos foi dado para sermos salvos para o céu aqui na Terra, de modo que quando alguém morre sem ter crido no evangelho, esta pessoa não poderá ser achada no céu, senão num lugar de tormentos eternos. É confessando a Jesus como Senhor com a nossa boca, crendo no nosso coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos para a nossa justificação, que somos salvos pelo poder da Sua graça. A boca simplesmente faz a confissão da experiência que ocorreu no espírito, isto é, no coração. E este modo de salvar usado por Deus é tanto para judeus quanto para gentios, porque Ele não faz acepção de pessoas, e é rico para com todos os que O invocam; porque tem prometido salvar a todo aquele que invocar o Seu nome.
122
Tendo falado sobre o modo de crer no evangelho, o apóstolo falou a partir do verso 14 sobre o modo como deve ser a sua pregação. Primeiro ele enfatiza, que as pessoas que ouvirão o evangelho e crerão nele, são aquelas que estiverem debaixo de uma verdadeira pregação da verdade do evangelho. Isto porque há muitos que pregam muitas coisas, mas não o evangelho. Muitos falam coisas acerca do evangelho, mas não o evangelho propriamente dito. O evangelho é como a semente da parábola do grão de mostarda. Somente dele pode germinar a vida eterna. Então não haverá salvação pela pregação de qualquer outra palavra, senão a do próprio evangelho. Pregar obras como meio de salvação como faz o judaísmo e muitas outras religiões, não é pregar o evangelho. Pregar prosperidade mundana como sendo o objetivo de Deus para as nossas vidas, não é pregar o evangelho.
123
Um outro ponto importante sobre o modo de pregar o evangelho, é que aqueles que o pregam devem ser enviados por Deus a fazê-lo. E todo aquele que Deus enviar nesta missão será antes preparado por Ele, tanto quanto ao conhecimento da mensagem da cruz, quanto a experimentar a cruz em sua própria vida; porque somente aqueles que estão crucificados verdadeiramente podem pregar a mensagem da cruz. Deve haver, portanto, uma comissão divina para cada pessoa que é levantada como pregador. Outro ponto que é destacado por Paulo no verso 15 deste décimo capítulo de Romanos, em relação à pregação, é aquele que faz referência aos pés dos que pregam, e se diz deles que são formosos. Isto indica, que servir ao Senhor na pregação da Palavra implicará em movimento para ir aonde quer que Ele nos envie. Será exigido de nós prontidão para caminhar, para avançar, para conquistar almas para Cristo. Então a fé é pelo ouvir a pregação, e este ouvir deve ser obrigatoriamente da Palavra de Deus, e não de qualquer outra palavra da imaginação, ciência ou artifício dos homens.
124
A mensagem que devemos pregar é uma revelação que nos veio diretamente do céu, então devemos nos cuidar para não nos iludirmos pensando que pregamos o evangelho enquanto falamos somente de coisas naturais e de realidades que pertencem a este mundo.
Antes de prosseguirmos com nossa exposição relativa ao capítulo décimo segundo, devemos destacar que o apóstolo continua apresentando razões relativas ao endurecimento de Israel ao evangelho, no décimo primeiro capítulo, como já havia feito anteriormente nos nono e décimo capítulos, de modo a deixar bastante claro que o endurecimento de Israel não signficava que eles haviam sido rejeitados definitivamente por Deus, através da eleição. Ao contrário, Ele sempre manteria um remanescente (os que creriam em Cristo) daquela nação, em todas as épocas da história da Igreja, até ao ponto de produzir uma conversão ampla e geral na nação por ocasião da segunda vinda de Jesus.
125
XII – A conduta que convém aos salvos pelo evangelho (Romanos 12) Tendo explanado nos capítulos anteriores a doutrina do evangelho em relação à obra realizada por Cristo e qual é a posição que os cristãos obtiveram diante de Deus por causa dEle, Paulo passou a descrever agora neste capítulo quais são as implicações práticas nas vidas dos cristãos, por causa da salvação pelo evangelho. O propósito do evangelho não é simplesmente o de nos trazer informações sobre a vida celestial que está em Jesus Cristo, mas de transformar nossos corações e modificar efetivamente todo o nosso comportamento. A fé cristã não é um mero sistema de crenças, mas um poder, um princípio espiritual vivo e eficaz que opera principalmente pela fé que atua pelo amor. Assim, as exortações práticas deste capítulo resumem em que consiste a vida do cristão. Paulo começou o décimo segundo capítulo de Romanos, rogando aos cristãos, por causa da misericórdia que foi demonstrada a eles por Deus, em Cristo, oferecendo-O como oferta
126
pelos pecados deles, que também apresentassem os seus próprios corpos a Deus como um sacrifício vivo, santo e agradável. Este sacrifício do cristão não tem em vista completar algo da obra perfeita de salvação que foi plenamente consumada por nosso Senhor Jesus Cristo, senão, que diz respeito exclusivamente à sua consagração pessoal a Deus. E não se entenda este sacrifício como alguma forma de ações penitenciais que visem flagelar o nosso corpo físico, ofertas pecuniárias além de nossas posses, ou mesmo aquelas que não nos forem requeridas diretamente pelo próprio Deus, ou qualquer tipo de flagelação pessoal. O que está sendo dito pelo apóstolo está relacionado ao ensino de Jesus sobre a negação do nosso ego carnal, visando-se à renovação da nossa mente naturalmente carnal em mente espiritual – a mente do próprio Cristo. Mas para que isto seja possível é necessário que não estejamos conformados ao modo de ser e agir deste mundo, pensando e agindo segundo o mundo, de maneira que é necessária uma transformação de vida pela renovação da mente, para que se possa experimentar de fato a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus, como se lê no verso 2.
127
A palavra usada por Paulo no original grego para transformação é metamorféu, de onde é vertida a nossa palavra metamorfose, que explica, por exemplo, a transformação de uma lagarta numa borboleta. É, portanto, uma referência a uma transformação de essência de vida. De uma vida natural e carnal, para uma vida espiritual. E o modo desta nossa transformação é afirmado pelo apóstolo como sendo resultante da renovação da nossa mente. É importante que saibamos que temos uma mente habituada aos padrões de pensamentos mundanos, terrenos e pecaminosos, e ainda por cima corrompida pelo pecado, e por isso ela precisa ser renovada pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus, para que possamos substituir estes padrões de pensamentos terrenos, mundanos e pecaminosos, pelos padrões celestiais, divinos e santos. Para exemplificar este modo de pensar segundo o mundo e não segundo Deus, podemos citar o conceito que comumente é atribuído à palavra santificação, que pouco ou nada tem a ver com o reto ensino bíblico sobre santificação. Quando a Bíblia fala da santificação sem a qual ninguém verá a Deus, e que para obtê-la necessitamos nascer de novo do Espírito e sermos submetidos à disciplina de Deus para
128
que sejamos feitos coparticipantes da Sua própria santidade, geralmente isto que é apresentado de modo claro, firme e absoluto é interpretado por muitos como algo que se refira tão somente à própria escolha que fazemos de evitar determinados hábitos nocivos e incorporar alguns outros que sejam moralmente aprovados. Todavia, o ensino bíblico sobre a santificação que é requerida por Deus aponta para uma mortificação real da natureza terrena – de um revestimento real da vida de Cristo, e isto por progressivas provações da fé que visam ao seu refinamento e crescimento, de modo que o apóstolo Paulo afirma que importa entrarmos no reino de Deus por meio de muitas tribulações. É por meio destas operações progressivas e graduais do processo de santificação pelo Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus às nossas vidas, que o velho homem vai ficando cada vez mais fraco, e com ele o pecado; e a graça de Jesus cada vez mais forte em nossas vidas, e com ela, o crescimento em nós de Suas virtudes celestiais, espirituais e divinas. De modo que sendo confirmados na fé, cheguemos a dizer com Paulo que não temos permanecido na prática do pecado, e com João
129
que disse que havia escrito a sua primeira epístola para que não pequemos. Acrescente-se a isto que o exercício destas graças e deveres demanda um coração sincero na busca de uma vida consagrada ao Senhor e aos interesses do Seu reino, uma vez que existe a impossibilidade de se servir a dois senhores. A salvação (eleição, justificação e regeneração) nos veio inteiramente pela graça e mediante a fé, mas deve ser desenvolvida mediante a nossa aplicação e esforço em todos os deveres espirituais que nos são ordenados na Palavra de Deus, ou seja, através da santificação. Não importa qual seja a nossa medida de fé, ou o grau de importância e responsabilidade do nosso ministério, porque em todos os casos, o que se requer é completa fidelidade ao Senhor e à Sua Palavra. De modo que se dissermos que o alvo do evangelho é o de que tenhamos uma vida em que o pecado seja algo eventual, como resultado de falta de vigilância, de oração, de meditação e prática da Palavra ocasionada por alguma negligência ou fraqueza decorrente de um descuido ocasional no uso do escudo da fé, e de todos os componentes da armadura de Deus, é quase certo que isto causará um espanto geral, porque os crentes se acostumaram à ideia de que haja da parte de Deus para eles, uma
130
abertura de concessões para permanecerem na prática de determinados pecados. Releia o estudo relativo ao sexto capítulo de Romanos, e veja se há ali alguma instrução desta natureza? Porventura não são afirmadas verdades absolutas como as seguintes? “Rom 6:1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? Rom 6:2 De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” “Rom 6:12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; Rom 6:13 nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.” Por isso necessitamos nos exortar mutuamente à diligência na prática do amor e das boas obras.
131
Devemos interceder uns pelos outros para que possamos ser achados de pé naquela condição que nos é imposta pelo evangelho. Por isso, quando cremos, somos feitos parte de um corpo formado por muitos membros, exatamente para que haja auxílio e cooperação mútuos entre os diversos membros, pelo desempenho das respectivas funções e dons recebidos de Deus. Assim, o amor não fingido que os cristãos devem ter é o amor cristão conforme está definido em I Cor 13. O cristão deve aborrecer toda forma de mal, e apegar-se somente ao bem. Além do amor a Deus e a todos os homens referido no verso 9, é dever do cristão amar seus irmãos em Cristo de coração, preferindo-se em honra mutuamente como se afirma no verso 10. Nenhum cristão deve ser lento, vagaroso na execução do zelo pelas coisas de Deus, e deve servi-lo fervorosamente em espírito como se vê no verso 11. Devem ser alegres na esperança da sua salvação, e sabendo que esta é certa e segura, devem ser pacientes em suas tribulações, e conseguirão isto perseverando em oração, como se afirma no verso 12.
132
A vida cristã é pontilhada de muitas lutas contra os poderes das trevas, especialmente quando o cristão aumenta em graus a sua consagração ao Senhor. Isto lhe traz muitas aflições e tristezas, produzidas pelos ataques que recebe dos espíritos opositores ao evangelho, e por isso deve permanecer firme na alegria da esperança da vida completamente resgatada das dores e aflições que sofre neste mundo que desfrutará por ocasião da volta do Senhor, sabendo também que Ele não lhe deixará nem desamparará, ao contrário, lhe proverá força e consolo em suas provações presentes. Paulo diz no verso 13 deste décimo segundo capítulo de Romanos: “Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade;”, a palavra no original grego para o verbo comunicai é koinoneo, de onde vem a palavra koinonia, que significa comunhão. Então se trata de um compartilhar as necessidades dos irmãos em comunhão com eles, no Espírito, daí ser seguido este mandamento pelo de se praticar a hospitalidade; não apenas em nossas casas, mas em nossos corações. O verso 14 contém uma repetição do mandamento que nos foi dado por Jesus em Seu ministério terreno de abençoarmos os que nos
133
maldizem e perseguem, a ponto de até mesmo amarmos os nossos inimigos. Todo cristão faz parte de um corpo do qual Jesus é a cabeça. Desta forma se algum membro deste corpo está triste, ele fica também triste. Se algum membro está alegre ele também se alegra, de maneira que é, neste modo de vida sentindo simpatia no espírito pela condição dos demais membros do corpo de Cristo, que cada cristão deve ser encontrado, por andar no Espírito e ter aprendido dEle a ter um coração como o de Cristo que simpatiza tanto com as nossas alegrias quanto com as nossas tristezas, daí ter o apóstolo dito no verso 15: “Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram;”. Se é deste modo que os cristãos devem viver na comunhão mútua, então devem se esforçar para que tenham o mesmo sentir e pensar de uns para com os outros; não ambicionando as coisas que o mundo considera elevadas, mas se acomodando com as que são humildes; mas isto só será possível se não andarem segundo a sua própria sabedoria terrena, mas somente pelo ato de se autonegarem para poderem andar e viver em conformidade com a mente de Cristo, e não segundo o modo de pensar e agir deste mundo, como se lê no verso 16.
134
Desta forma é um dever de todo cristão, no que depender dele, ter paz com todos os homens. Na verdade, a paz de Jesus é um juiz que dirá ao nosso coração se estamos agindo contra este mandamento, porque quando estamos em plena comunhão com o Senhor, todo espírito de vingança, amargura, contenda, ira, vai embora, e o que reina é o espírito de paz como fruto do Espírito Santo. Não é dado ao cristão o direito de se vingar - ainda que seja tratando com frieza e amargura - daqueles que julga que devem pagar por lhe terem aborrecido. Nem mesmo no caso de uma breve ira justificada por causa de algum pecado real praticado contra ele deve abrigar qualquer sentimento de vingança, mas deixar que Deus seja o juiz da sua causa. Ele prometeu julgar todo o mal que for praticado no mundo e certamente o fará no dia do juízo, e muitas vezes intervém com juízos, mesmo neste mundo, para defender os seus, então o cristão deve aprender a confiar totalmente nesta justiça divina que nunca falha e guardar o seu coração sossegado e em paz em meio às injustiças que possa vir a sofrer, como se vê no verso 19. Então em vez de se vingar, deve amar seus inimigos, e caso eles tenham fome e não
135
tenham quem possa lhes dar de comer, o cristão bem fará se o alimentar; do mesmo modo deve agir caso ele tenha sede, porque estará amontoando brasas de fogo sobre a sua cabeça, isto é, dando-lhe a oportunidade de examinar a sua consciência e ver se é justa a inimizade que tem alimentado contra os cristãos, como se lê no verso 20. Seguindo todas estas ordenanças o cristão não se deixará vencer pelo mal, antes vencerá o mal com o bem; e nunca é demais lembrar que Satanás está sempre procurando brechas em nosso comportamento, através das quais possa entrar com suas tentações para neutralizar-nos em nossa caminhada espiritual, como se vê no verso 21. Agora, como temos aprendido até aqui, pelo exame das Escrituras, nada disso é possível de ser vivido à parte de Cristo. Por isso necessitamos manter a nossa comunhão diariamente em espírito com Ele, através da vigilância, da oração, e do exercício de todos demais meios de graça (oração, confissão, meditação etc) que nos foram providos por Deus com vistas a mantermos a referida comunhão, pois sem Ele nada podemos fazer. E acima de tudo devemos cuidar em manter o nosso coração puro, porque é dele que procedem todas as veredas desta vida divina.
136
Conclusão
Com esta breve exposição não apresentamos todos os aspectos que se encontram relacionados ao Evangelho, até mesmo porque, como o próprio Cristo, este é infinito e eterno.
Todavia, os pontos essenciais do mistério do evangelho que foi revelado em Cristo, foram devidamente considerados, de modo que possamos entender o propósito eterno de Deus que se cumpre na união dos crentes com Cristo.
137
ANEXO: Epístola aos Romanos
ROMANOS 1
1 Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus,
2 que ele antes havia prometido pelos seus profetas nas santas Escrituras,
3 acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,
4 e que com poder foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos - Jesus Cristo nosso Senhor,
5 pelo qual recebemos a graça e o apostolado, por amor do seu nome, para a obediência da fé entre todos os gentios,
6 entre os quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo;
7 a todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados para serdes santos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
8 Primeiramente dou graças ao meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.
9 Pois Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós,
138
10 pedindo sempre em minhas orações que, afinal, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião para ir ter convosco.
11 Porque desejo muito ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais fortalecidos;
12 isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado em vós pela fé mútua, vossa e minha.
13 E não quero que ignoreis, irmãos, que muitas vezes propus visitar-vos (mas até agora tenho sido impedido), para conseguir algum fruto entre vós, como também entre os demais gentios.
14 Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.
15 De modo que, quanto está em mim, estou pronto para anunciar o evangelho também a vós que estais em Roma.
16 Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.
17 Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.
18 Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça.
19 Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
20 Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde
139
a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis;
21 porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
22 Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos,
23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
24 Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si;
25 pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém.
26 Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza;
27 semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro.
28 E assim como eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm;
140
29 estando cheios de toda a injustiça, malícia, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, dolo, malignidade;
30 sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pais;
31 néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, sem misericórdia;
32 os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam.
141
ROMANOS 2
1 Portanto, és inescusável, ó homem, qualquer que sejas, quando julgas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas, praticas o mesmo.
2 E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade, contra os que tais coisas praticam.
3 E tu, ó homem, que julgas os que praticam tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?
4 Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te conduz ao arrependimento?
5 Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus,
6 que retribuirá a cada um segundo as suas obras;
7 a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram glória, e honra e incorrupção;
8 mas ira e indignação aos que são contenciosos, e desobedientes à iniquidade;
9 tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, primeiramente do judeu, e também do grego;
10 glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego;
142
11 pois para com Deus não há acepção de pessoas.
12 Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.
13 Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei
14 (porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmos são lei.
15 pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os),
16 no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Cristo Jesus, segundo o meu evangelho.
17 Mas se tu és chamado judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;
18 e conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei;
19 e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas,
20 instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens na lei a forma da ciência e da verdade;
21 tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?
22 Tu, que dizes que não se deve cometer adultério, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, roubas os templos?
143
23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
24 Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está escrito.
25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se tornado em incircuncisão.
26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão?
27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és transgressor da lei.
28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.
29 Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.
144
ROMANOS 3
1 Que vantagem, pois, tem o judeu? ou qual a utilidade da circuncisão?
2 Muita, em todo sentido; primeiramente, porque lhe foram confiados os oráculos de Deus.
3 Pois quê? Se alguns foram infiéis, porventura a sua infidelidade anulará a fidelidade de Deus?
4 De modo nenhum; antes seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando fores julgado.
5 E, se a nossa injustiça prova a justiça de Deus, que diremos? Acaso Deus, que castiga com ira, é injusto? (Falo como homem.)
6 De modo nenhum; do contrário, como julgará Deus o mundo?
7 Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para sua glória, por que sou eu ainda julgado como pecador?
8 E por que não dizemos: Façamos o mal para que venha o bem? - como alguns caluniosamente afirmam que dizemos; a condenação dos quais é justa.
9 Pois quê? Somos melhores do que eles? De maneira nenhuma, pois já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado;
10 como está escrito: Não há justo, nem sequer um.
145
11 Não há quem entenda; não há quem busque a Deus.
12 Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.
13 A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios;
14 a sua boca está cheia de maldição e amargura.
15 Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
16 Nos seus caminhos há destruição e miséria;
17 e não conheceram o caminho da paz.
18 Não há temor de Deus diante dos seus olhos.
19 Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus;
20 porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado.
21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas;
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,
25 ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua
146
justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos;
26 para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus.
27 Onde está logo a jactância? Foi excluída. Por que lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.
28 concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.
29 É porventura Deus somente dos judeus? Não é também dos gentios? Também dos gentios, certamente,
30 se é que Deus é um só, que pela fé há de justificar a circuncisão, e também por meio da fé a incircuncisão.
31 Anulamos, pois, a lei pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos a lei.
147
ROMANOS 4
1 Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?
2 Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus.
3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;
6 assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo:
7 Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.
9 Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos: A Abraão foi imputada a fé como justiça.
10 Como, pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão, ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas sim na incircuncisão.
11 E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era circuncidado, para que fosse pai de todos os que
148
creem, estando eles na incircuncisão, a fim de que a justiça lhes seja imputada,
12 bem como fosse pai dos circuncisos, dos que não somente são da circuncisão, mas também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, antes de ser circuncidado.
13 Porque não foi pela lei que veio a Abraão, ou à sua descendência, a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo, mas pela justiça da fé.
14 Pois, se os que são da lei são herdeiros, logo a fé é vã e a promessa é anulada.
15 Porque a lei opera a ira; mas onde não há lei também não há transgressão.
16 Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.
17 (como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, que vivifica os mortos, e chama as coisas que não são, como se já fossem.
18 O qual, em esperança, creu contra a esperança, para que se tornasse pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência;
19 e sem se enfraquecer na fé, considerou o seu próprio corpo já amortecido (pois tinha quase cem anos), e o amortecimento do ventre de Sara;
20 contudo, à vista da promessa de Deus, não vacilou por incredulidade, antes foi fortalecido na fé, dando glória a Deus,
149
21 e estando certíssimo de que o que Deus tinha prometido, também era poderoso para o fazer.
22 Pelo que também isso lhe foi imputado como justiça.
23 Ora, não é só por causa dele que está escrito que lhe foi imputado;
24 mas também por causa de nós a quem há de ser imputado, a nós os que cremos naquele que dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor;
25 o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitado para a nossa justificação.
150
ROMANOS 5
1 Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo,
2 por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus.
3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6 Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios.
7 Porque dificilmente haverá quem morra por um justo; pois poderá ser que pelo homem bondoso alguém ouse morrer.
8 Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
9 Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
10 Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
11 E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus
151
Cristo, pelo qual agora temos recebido a reconciliação.
12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.
13 Porque antes da lei já estava o pecado no mundo, mas onde não há lei o pecado não é levado em conta.
14 No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão o qual é figura daquele que havia de vir.
15 Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.
16 Também não é assim o dom como a ofensa, que veio por um só que pecou; porque o juízo veio, na verdade, de uma só ofensa para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação.
17 Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
18 Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida.
152
19 Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um muitos serão constituídos justos.
20 Sobreveio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;
21 para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.
153
ROMANOS 6
1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça?
2 De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?
3 Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?
4 Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.
5 Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição;
6 sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado.
7 Pois quem está morto está justificado do pecado.
8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos,
9 sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele.
10 Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus.
154
11 Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.
12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.
14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?
17 Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;
18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniquidade para iniquidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação.
155
20 Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres em relação à justiça.
21 E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? pois o fim delas é a morte.
22 Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.
23 Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.
156
ROMANOS 7
1 Ou ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que ele vive?
2 Porque a mulher casada está ligada pela lei a seu marido enquanto ele viver; mas, se ele morrer, ela está livre da lei do marido.
3 De sorte que, enquanto viver o marido, será chamado adúltera, se for de outro homem; mas, se ele morrer, ela está livre da lei, e assim não será adúltera se for de outro marido.
4 Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para Deus.
5 Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte.
6 Mas agora fomos libertos da lei, havendo morrido para aquilo em que estávamos retidos, para servirmos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.
7 Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Contudo, eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.
8 Mas o pecado, tomando ocasião, pelo mandamento operou em mim toda espécie de
157
concupiscência; porquanto onde não há lei está morto o pecado.
9 E outrora eu vivia sem a lei; mas assim que veio o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri;
10 e o mandamento que era para vida, esse achei que me era para morte.
11 Porque o pecado, tomando ocasião, pelo mandamento me enganou, e por ele me matou.
12 De modo que a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.
13 Logo o bom tornou-se morte para mim? De modo nenhum; mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte por meio do bem; a fim de que pelo mandamento o pecado se manifestasse excessivamente maligno.
14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.
15 Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço.
16 E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
17 Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.
19 Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.
20 Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
158
21 Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo.
22 Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
23 mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.
24 Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
25 Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.
159
ROMANOS 8
1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
3 Porquanto o que era impossível à lei, visto que se achava fraca pela carne, Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado, e por causa do pecado, na carne condenou o pecado.
4 para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
5 Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito.
6 Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
7 Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser;
8 e os que estão na carne não podem agradar a Deus.
9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
10 Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.
160
11 E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.
12 Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne para vivermos segundo a carne;
13 porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.
14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.
15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!
16 O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus;
17 e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.
18 Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada.
19 Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus.
20 Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou,
21 na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da
161
corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
22 Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora;
23 e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a redenção do nosso corpo.
24 Porque na esperança fomos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?
25 Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos.
26 Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
27 E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do Espírito: que ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos.
28 E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
29 Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos;
30 e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também
162
justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.
31 Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
32 Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?
33 Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;
34 Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós;
35 quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
36 Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
37 Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou.
38 Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades,
39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.
163
ROMANOS 9
1 Digo a verdade em Cristo, não minto, dando testemunho comigo a minha consciência no Espírito Santo,
2 que tenho grande tristeza e incessante dor no meu coração.
3 Porque eu mesmo desejaria ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne;
4 os quais são israelitas, de quem é a adoção, e a glória, e os pactos, e a promulgação da lei, e o culto, e as promessas;
5 de quem são os patriarcas; e de quem descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente. Amém.
6 Não que a palavra de Deus haja falhado. Porque nem todos os que são de Israel são israelitas;
7 nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.
8 Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus; mas os filhos da promessa são contados como descendência.
9 Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho.
10 E não somente isso, mas também a Rebeca, que havia concebido de um, de Isaque, nosso pai
11 (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o
164
propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama),
12 foi-lhe dito: O maior servirá o menor.
13 Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú.
14 Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum.
15 Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericordia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão.
16 Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia.
17 Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra.
18 Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece.
19 Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade?
20 Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
21 Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?
22 E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição;
165
23 para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,
24 os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?
25 Como diz ele também em Oseias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada à que não era amada.
26 E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; aí serão chamados filhos do Deus vivo.
27 Também Isaías exclama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo.
28 Porque o Senhor executará a sua palavra sobre a terra, consumando-a e abreviando-a.
29 E como antes dissera Isaías: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, teríamos sido feitos como Sodoma, e seríamos semelhantes a Gomorra.
30 Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça, mas a justiça que vem da fé.
31 Mas Israel, buscando a lei da justiça, não atingiu esta lei.
32 Por que? Porque não a buscavam pela fé, mas como que pelas obras; e tropeçaram na pedra de tropeço;
33 como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço; e uma rocha de
166
escândalo; e quem nela crer não será confundido.
167
ROMANOS 10
1 Irmãos, o bom desejo do meu coração e a minha súplica a Deus por Israel é para sua salvação.
2 Porque lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não com entendimento.
3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.
4 Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê.
5 Porque Moisés escreve que o homem que pratica a justiça que vem da lei viverá por ela.
6 Mas a justiça que vem da fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo;)
7 ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a fazer subir a Cristo dentre os mortos).
8 Mas que diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé, que pregamos.
9 Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo;
10 pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.
11 Porque a Escritura diz: Ninguém que nele crê será confundido.
12 Porquanto não há distinção entre judeu e grego; porque o mesmo Senhor o é de todos, rico para com todos os que o invocam.
168
13 Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
14 Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?
15 E como pregarão, se não forem enviados? assim como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam coisas boas!
16 Mas nem todos deram ouvidos ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem?
17 Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo.
18 Mas pergunto: Porventura não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até os confins do mundo.
19 Mas pergunto ainda: Porventura Israel não o soube? Primeiro diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, com um povo insensato vos provocarei à ira.
20 E Isaías ousou dizer: Fui achado pelos que não me buscavam, manifestei-me aos que por mim não perguntavam.
21 Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.
169
ROMANOS 11
1 Pergunto, pois: Acaso rejeitou Deus ao seu povo? De modo nenhum; por que eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.
2 Deus não rejeitou ao seu povo que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como ele fala a Deus contra Israel, dizendo:
3 Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e procuraram tirar-me a vida?
4 Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões que não dobraram os joelhos diante de Baal.
5 Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça.
6 Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça.
7 Pois quê? O que Israel busca, isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,
8 como está escrito: Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até o dia de hoje.
9 E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, e em retribuição;
10 escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas.
11 Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de modo que caíssem? De maneira nenhuma, antes pelo seu
170
tropeço veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação.
12 Ora se o tropeço deles é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!
13 Mas é a vós, gentios, que falo; e, porquanto sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério,
14 para ver se de algum modo posso incitar à emulação os da minha raça e salvar alguns deles.
15 Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?
16 Se as primícias são santas, também a massa o é; e se a raiz é santa, também os ramos o são.
17 E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado no lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira,
18 não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.
19 Dirás então: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado.
20 Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu pela tua fé estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme;
21 porque, se Deus não poupou os ramos naturais, não te poupará a ti.
22 Considera pois a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; para contigo, a bondade de Deus, se permaneceres
171
nessa bondade; do contrário também tu serás cortado.
23 E ainda eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os enxertar novamente.
24 Pois se tu foste cortado do natural zambujeiro, e contra a natureza enxertado em oliveira legítima, quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira esses que são ramos naturais!
25 Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado;
26 e assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades;
27 e este será o meu pacto com eles, quando eu tirar os seus pecados.
28 Quanto ao evangelho, eles na verdade, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais.
29 Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis.
30 Pois, assim como vós outrora fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia pela desobediência deles,
31 assim também estes agora foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada.
172
32 Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos.
33 ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!
34 Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro?
35 Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?
36 Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.
173
ROMANOS 12
1 Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
3 Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um.
4 Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função,
5 assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros.
6 De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7 se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
8 ou que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.
9 O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem.
174
10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros;
11 não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor;
12 alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;
13 acudi aos santos nas suas necessidades, exercei a hospitalidade;
14 abençoai aos que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis;
15 alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram;
16 sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altivas mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios aos vossos olhos;
17 a ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas dignas, perante todos os homens.
18 Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens.
19 Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.
20 Antes, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.
21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.
175
ROMANOS 13
1 Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus.
2 Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.
3 Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela;
4 porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal.
5 Pelo que é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa da ira, mas também por causa da consciência.
6 Por esta razão também pagais tributo; porque são ministros de Deus, para atenderem a isso mesmo.
7 Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.
8 A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei.
9 Com efeito: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
176
10 O amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei.
11 E isso fazei, conhecendo o tempo, que já é hora de despertardes do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando nos tornamos crentes.
12 A noite é passada, e o dia é chegado; dispamo-nos, pois, das obras das trevas, e vistamo-nos, pois, das obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz.
13 Andemos honestamente, como de dia: não em glutonarias e bebedeiras, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e inveja.
14 Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.
177
ROMANOS 14
1 Ora, ao que é fraco na fé, acolhei-o, mas não para condenar-lhe os escrúpulos.
2 Um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come só legumes.
3 Quem come não despreze a quem não come; e quem não come não julgue a quem come; pois Deus o acolheu.
4 Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é o Senhor para o firmar.
5 Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente.
6 Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. E quem come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.
7 Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si.
8 Pois, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor.
9 Porque foi para isto mesmo que Cristo morreu e tornou a viver, para ser Senhor tanto de mortos como de vivos.
10 Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Deus.
178
11 Porque está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua louvará a Deus.
12 Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.
13 Portanto não nos julguemos mais uns aos outros; antes o seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao vosso irmão.
14 Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo.
15 Pois, se pela tua comida se entristece teu irmão, já não andas segundo o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.
16 Não seja pois censurado o vosso bem;
17 porque o reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito Santo.
18 Pois quem nisso serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens.
19 Assim, pois, sigamos as coisas que servem para a paz e as que contribuem para a edificação mútua.
20 Não destruas por causa da comida a obra de Deus. Na verdade tudo é limpo, mas é um mal para o homem dar motivo de tropeço pelo comer.
21 Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outra coisa em que teu irmão tropece.
179
22 A fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.
23 Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque o que faz não provém da fé; e tudo o que não provém da fé é pecado.
180
ROMANOS 15
1 Ora nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e nào agradar a nós mesmos.
2 Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo, visando o que é bom para edificação.
3 Porque também Cristo não se agradou a si mesmo, mas como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam.
4 Porquanto, tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que, pela constância e pela consolação provenientes das Escrituras, tenhamos esperança.
5 Ora, o Deus de constância e de consolação vos dê o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus.
6 Para que unânimes, e a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
7 Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu, para glória de Deus.
8 Digo pois que Cristo foi feito ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos pais;
9 e para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto eu te louvarei entre os gentios, e cantarei ao teu nome.
10 E outra vez diz: Alegrai-vos, gentios, juntamente com o povo.
11 E ainda: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e louvem-no, todos os povos.
181
12 E outra vez, diz também Isaías: Haverá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para reger os gentios; nele os gentios esperarão.
13 Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz na vossa fé, para que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo.
14 Eu, da minha parte, irmãos meus, estou persuadido a vosso respeito, que vós já estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento e capazes, vós mesmos, de admoestar-vos uns aos outros.
15 Mas em parte vos escrevo mais ousadamente, como para vos trazer outra vez isto à memória, por causa da graça que por Deus me foi dada, 16 Que seja ministro de Jesus Cristo para os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo.
17 Tenho, portanto, motivo para me gloriar em Cristo Jesus, nas coisas concernentes a Deus;
18 porque não ousarei falar de coisa alguma senão daquilo que Cristo por meu intermédio tem feito, para obediência da parte dos gentios, por palavra e por obras,
19 pelo poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito Santo; de modo que desde Jerusalém e arredores, até a Ilíria, tenho divulgado o evangelho de Cristo;
20 deste modo esforçando-me por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio;
182
21 antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão; e os que não ouviram, entenderão.
22 Pelo que também muitas vezes tenho sido impedido de ir ter convosco;
23 mas agora, não tendo mais o que me detenha nestas regiões, e tendo já há muitos anos grande desejo de ir visitar-vos,
24 eu o farei quando for à Espanha; pois espero ver-vos de passagem e por vós ser encaminhado para lá, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia.
25 Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos.
26 Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia levantar uma oferta fraternal para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém.
27 Isto pois lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes das bênçãos espirituais dos judeus, devem também servir a estes com as materiais.
28 Tendo, pois, concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha.
29 E bem sei que, quando for visitar-vos, chegarei na plenitude da bênção de Cristo.
30 Rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas vossas orações por mim a Deus,
183
31 para que eu seja livre dos rebeldes que estão na Judeia, e que este meu ministério em Jerusalém seja aceitável aos santos;
32 a fim de que, pela vontade de Deus, eu chegue até vós com alegria, e possa entre vós recobrar as forças.
33 E o Deus de paz seja com todos vós. Amém.
184
ROMANOS 16
1 Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é serva da igreja que está em Cencreia;
2 para que a recebais no Senhor, de um modo digno dos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós
necessitar; porque ela tem sido o amparo de muitos, e de mim em particular.
3 Saudai a Prisca e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus,
4 os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios.
5 Saudai também a igreja que está na casa deles. Saudai a Epêneto, meu amado, que é as primícias da Ásia para Cristo.
6 Saudai a Maria, que muito trabalhou por vós.
7 Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros de prisão, os quais são bem conceituados entre os apóstolos, e que estavam em Cristo antes de mim.
8 Saudai a Ampliato, meu amado no Senhor.
9 Saudai a Urbano, nosso cooperador em Cristo, e a Estáquis, meu amado.
10 Saudai a Apeles, aprovado em Cristo. Saudai aos da casa de Aristóbulo.
11 Saudai a Herodião, meu parente. Saudai aos da casa de Narciso que estão no Senhor.
12 Saudai a Trifena e a Trifosa, que trabalham no Senhor. Saudai a amada Pérside, que muito trabalhou no Senhor.
185
13 Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e minha.
14 Saudai a Asíncrito, a Flegonte, a Hermes, a Pátrobas, a Hermes, e aos irmãos que estão com eles.
15 Saudai a Filólogo e a Júlia, a Nereu e a sua irmã, e a Olimpas, e a todos os santos que com eles estão.
16 Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam.
17 Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.
18 Porque os tais não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao seu ventre; e com palavras suaves e lisonjas enganam os corações dos inocentes.
19 Pois a vossa obediência é conhecida de todos. Comprazo-me, portanto, em vós; e quero que sejais sábios para o bem, mas simples para o mal.
20 E o Deus de paz em breve esmagará a Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.
21 Saúdam-vos Timóteo, meu cooperador, e Lúcio, e Jáson, e Sosípatro, meus parentes.
22 Eu, Tércio, que escrevo esta carta, vos saúdo no Senhor.
23 Saúda-vos Gaio, hospedeiro meu e de toda a igreja. Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade, e também o irmão Quarto.
24 [A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém.]
186
25 Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar, segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio desde os tempos eternos,
26 mas agora manifesto e, por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus, eterno, dado a conhecer a todas as nações para obediência da fé;
27 ao único Deus sábio seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.

Edition Notes

Published in
Rio de Janeiro, Brasil

The Physical Object

Format
Paperback
Pagination
xvi,186p.
Number of pages
186
Dimensions
21 x 14,8 x 0,9 centimeters
Weight
226 grams

ID Numbers

Open Library
OL25938304M

Work Description

Religião cristã

Community Reviews (0)

Feedback?
No community reviews have been submitted for this work.

Lists

This work does not appear on any lists.

History

Download catalog record: RDF / JSON
September 2, 2016 Edited by Silvio Dutra Edited without comment.
August 10, 2016 Edited by Silvio Dutra Edited without comment.
August 10, 2016 Created by Silvio Dutra Added new book.