An edition of A Sombra no Limite
(2004)
A Sombra no Limite
53 poemas
by António Carlos Cortez
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Poetry
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Book Details
Table of Contents
a luz que se oferece em chama
tornar-se-á a imensa claridade
que sombra tem o limite da sombra
eternidade é a palavra perseguida
aquática se move desde sempre
um desejo mais fundo que o desejo
espaço íntimo de ínfimo
ecoa o sol vertiginoso do olhar
a olhar a rápida frescura
gota a gota se faz a brancura da sílaba
o incêndio invade o coração
colocar a palavra certa
num silêncio igual à claridade exacta
a boca descoberta a boca aberta ao som
sempre haverá um animal de pálpebra
essa será a areia percorrida pela mão
a luz bate na sombra
que fosse a própria invasão da mão
há o teu reflexo a fazer de espelho
acreditar que a pedra é de pedra na superfície rugosa
do fogo e da escuridão a primeira palavra
porque esta é a fúria de todo o corpo súbito
não retirar da ossatura a sombra do instante
a impossível certeza dessa sombra oculta
a sombra é uma criança que tece
só agora vens de muito longe por entre o sangue
a incandescente forma do sangue fértil
esse animal tem o perfil exacto
por isso o silêncio e o ouro silenciado
é um animal esplêndido que irrompe
harmoniosa e clara
ó sombra imanobrável da lâmina incendiada
a linha de sombra
acabar por fim a mesma pele da sombra
nada para além de ti te vai acompanhar
possuir a imensa claridade
sublinho a tua pele como se fosse um mapa
a água fica presa em tua língua
plana como dois sóis
é a lei de uma palavra perseguida
o nome da palavra e o seu destino
navegar e dormir à sombra do encontro
tu educas a crina sumptuosa do cavalo
vim da cidade do silêncio e regressei
é quando a noite é um animal ferido
o poeta anda pelas ruas solitário
que dizer da fúria às vezes plácida ternura
o corpo quando é jovem arde na sua pureza
o súbito rumor da língua que desliza
nas nossas ruas o sol há-de romper
falta-me o tempo para celebrar os teus cabelos
às palavras juntar-lhes um pouco mais de fogo
estou deitado na folha que me espera
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